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Durante um treino, você aumenta o ritmo das passadas e sente o primeiro desconforto entre o fígado e o baço. Para não perder o ritmo, mantém a mesma intensidade da corrida, mas, nos minutos seguintes, o problema não te abandona, trazendo dificuldades para respirar e um forte incômodo na região “do lado”. O conjunto de dificuldades mina seu desempenho até que o mal-estar, por maior que seja a sua força de vontade em seguir adiante na corrida, te obriga a caminhar ou, na melhor das hipóteses, diminuir a intensidade das passadas.
Já passou por essa situação e não sabe exatamente o que acontece no seu corpo? Trata-se da dor de lado, que surge como consequência de um esforço que ultrapassa o condicionamento físico de uma pessoa ou da alimentação inadequada nos momentos que antecederam a corrida.
Embora o organismo de um ser humano tenha capacidade para se adaptar a situações de exigência física maior do que a de costume, o aumento de intensidade na corrida pode provocar um acúmulo do ácido lático no corpo e, consequentemente, a acidose muscular – causando o desconforto.
É quando se manifestam os sintomas que afundam o seu desempenho, como dor, cansaço e desconforto gastrointestinal. Não respeitar os seus limites e correr em estágios acima do que o seu corpo suporta é o primeiro passo para que a fadiga do músculo apareça. “É falta de condicionamento físico. Você foi além do seu limite e seu corpo reclamou”, resume Marcelo Vieira, fundador da assessoria esportiva Movement Lifestyle.
Creditar a dor de lado ao que popularmente chamam de “respiração errada” — crença ligada à sensação gerada pela fadiga do diafragma — não passa de um mito. Diego Leite de Barros, fisiologista do Hospital do Coração, explica que orientar a respiração de uma determinada forma aumenta a chance de interferir na absorção de oxigênio.
“Se você sente vontade de respirar pela boca durante o exercício, seu corpo está te mandando um aviso de que precisa de mais ar. Na corrida, a ideia é que respeitemos a nossa necessidade de aporte de oxigênio. Muitos confundem uma recomendação de ioga e querem aplicá-la para tudo. Na corrida, a respiração é livre. Se você reparar em um maratonista profissional, ele está de boca aberta. Faz uma atividade de altíssimo rendimento durante 2 horas, precisa daquele oxigênio e é natural que respire pela boca”, esclarece.
Quando a dor de lado passa a fazer parte da rotina do corredor, a origem do problema pode ser outra: a alimentação errada antes do treinamento. Fazer atividade com o estômago cheio ou ingerir alimentos pesados e bebidas com gás pouco antes de correr pode melar a sua corrida e gerar o mal-estar. A primeira reação de Lucas Cintra, da assessoria esportiva paulistana Deluka, quando vê um de seus alunos com o incômodo na região é perguntar sobre alimentação e hidratação, tese confirmada por Diego Leite de Barros.
“Você tem um tempo de digestão que varia de acordo com o alimento e a fisiologia da pessoa. Se a pessoa se alimenta meia hora antes da corrida ou come algo gorduroso, crescem as chances de haver o desconforto. É difícil passar uma receita que funcione para todos em relação à alimentação. Tem que ter bom senso”, afirma o fisiologista.
Cada um tem um processo de digestão e, durante o caminho que o alimento percorre, esôfago, estômago e intestino pedem tempos diferentes para digerir tudo. ”Quando há um esforço físico, existe um impacto no organismo. Dependendo do ritmo e do alimento, o impacto pode ser maior ou menor”, acrescenta a nutróloga Nathali Oliani.
No momento da dor aguda, parar o exercício ou reduzir o ritmo para uma caminhada trará alívio de forma rápida. Se você se sentir confortável novamente, tente retomar o padrão anterior de ritmo. Caso sinta a dor de lado frequentemente, é preciso rever a proposta de treino para saber se o índice trabalhado não é mais alto do que o ideal.
Ultrapassar a capacidade de produção anaeróbia só trará prejuízos ao corpo, não benefícios. Aumente sua intensidade nos treinos sem exageros e seja coerente no seu planejamento para as provas.
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