Comum em praticantes de esportes com impactos repetitivos, principalmente os corredores de rua, a síndrome compartimental crônica é uma doença muscular e nervosa com sintomas que frequentemente aparecem durante a prática do exercício físico.
A doença é caracterizada por um aumento da pressão no espaço ao redor dos músculos, delimitados pelas fáscias, chamados de compartimento. Qualquer elevação de pressão dentro desse compartimento pode gerar o quadro, desde o sangramento por uma fratura até um edema muscular, sendo mais comum nas extremidades do corpo.
Entre os corredores de rua, essa elevação de pressão costuma ocorrer por um edema, o acúmulo de líquido entre os teciso, após um treino muito intenso, geralmente na perna. O principal sintoma é a dor intensa na região.
O paciente típico com síndrome compartimental crônica (SCC) é o corredor com alto volume de treinos, de grande intensidade, com idade entre 20 e 30 anos. A dor e a sensação de aperto começa após 20 a 30 minutos de esforço físico e desaparece dentro de 15 a 30 minutos após o término da atividade.
Apesar disso, ainda não foram estabelecidos fatores de risco para a doença. Entretanto, o alto volume de atividade física é apontado pelos médicos como uma das razões.
Durante os treinos, há um aumento do suprimento sanguíneo na musculatura com crescimento do volume muscular, podendo pressionar o compartimento e acarretar o problema.
“Na maioria das pessoas, há um espaço dentro do compartimento para suportar esse aumento, porém em alguns atletas a fáscia é mais rígida, com menor resitência à variação da pressão”, explica o ortotopedista Thiago Righetto.
O principal sintoma da síndrome compartimental crônica é a dor na região. Quando aumenta a pressão sobre o compartimento, consequentemente diminui-se o fluxo sanguíneo no local. Com isso, há o quadro que os médicos chamam de hipóxia, tratando-se da baixa concentração de oxigênio.
Além disso, pode ocorrer queimação, aperto, dormência, formigamento e fraqueza. No caso dos corredores, desconforto na região tensionada ao mexer os dedos dos pés e a ineficácia de analgésicos são dois sinais da condição.
“A pressão aumentada no compartimento melhora após o término da atividade física, com alívio concomitante dos sintomas. Não causa dano tecidual grave, mas pode ser bem incômoda, inclusive em atletas profissionais”, explica Righetto.
O diagnóstico do quadro é majoritariamente clínico: as queixas características do paciente, como desaparecimento da dor ao repouso, são fortes indicativos. Além disso, a aferição da pressão dentro do compartimento antes e logo após a atividade física é outra alternativa para detectar a doença.
De acordo com o Dr. Thiago Righetto, exames de imagem ajudam a excluir as causas mais comuns de dor, como a canelite e a fratura por estresse no caso de queixa na perna, o que auxilia o médico a detectar a síndrome compartimental.
A abordagem terapêutica para tratar a síndrome compartimental é geralmente conservadora, com adaptação de treino e mudança de categoria de competição ou até de esporte. Em atletas profissionais pode ser necessário tratamento cirúrgico, através de um procedimento chamado fasciotomia – a abertura das fáscias com objetivo de aliviar a pressão sobre compartimentos afetados.
Como os fatores de risco da síndrome compartimental crônica ainda não são bem definidos, é importante manter sempre uma rotina com exercícios de alongamento e fortalecimento muscular, principalmente dos pés e tornozelos, com aumento gradual da carga de treino.
A prática regular de exercícios para ganho de resistência muscular, uso de calçado adequado e o desenvolvimento de uma boa técnica são cuidados que podem prevenir a síndrome compartimental segundo os médicos.
Além da síndrome compartimental crônica, os mesmos sintomas podem aparecer em atletas por uma doença parecida, a síndrome compartimental aguda, que pode ser mais perigosa.
Em vez de causada pela rotina de atividades físicas intensas, a síndrome compartimental aguda tem como origem um trauma.
“É uma urgência ortopédica, pois o aumento da pressão no compartimento diminui o fluxo sanguíneo local, levando à lesão dos tecidos desse compartimento por falta de oxigênio, sendo um quadro irreversível. É progressivo caso o paciente não seja submetido à cirurgia para descomprimir o compartimento”, atesta o ortopedista.
Fonte: Dr. Thiago Righetto, ortopedista da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), médico pelo Comitê Paralímpico Brasileiro nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, membro da Sociedade Americana de Medicina Esportiva – American Medical Society for Sports Medicine (AMSSM)
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