Flatline é aquela linha contínua no monitor digital que mostra os batimentos cardíacos de um paciente. Agora, a expressão também é usada para definir um novo treinamento.
Antes de iniciar esse treinamento, é obrigatório assinar um documento de isenção de responsabilidade. O documento explica que fazer esse treino pode causar “invalidez permanente, acidente vascular cerebral, insuficiência de múltiplos órgãos, lesão medular, paralisia, ataques cardíacos, edema cerebral e até a morte.” Este é flatline, que se intitula como o treinamento mais perigoso do mundo.
No entanto, o aviso e o óbvio perigo não foram suficientes para impedir novos adeptos. Desde novembro do ano passado, quando o ginásio Londres Gymbox, na Inglaterra, anunciou a formatação desse treino extremo, muitos procuram testar os limites de suas capacidades físicas e fazem fila na frente do ginásio para treinar o flatline.
David Cooper, diretor do Gymbox, adverte: “nem sequer pense em fazer um treino se você não tiver 100% de certeza de que seu corpo é capaz de trabalhar com o limite de suas possibilidades”.
Durante a sessão de flatline, vários médicos cardiologistas e paramédicos estão prontos para intervir em caso de emergência. O treinamento, que inclui pesos, halteres, cordas, flexões e pedras de arremesso, consiste em sete exercícios de alta resistência com cinco repetições que poucos resistem chegar ao final do circuito.
Escalar uma corda até o teto quatro vezes, levantar 60 kg nos ombros seis vezes e andar vários metros segurando pesos de 40 kg em cada braço são alguns dos exercícios para serem executados em 45 segundos. Entre um e outro exercício, apenas 15 segundos para tentar recuperar o fôlego.
“No meio do treino eu percebi que estava em apuros. O meu fôlego tinha acabado. A partir desse momento, meu coração perdeu a capacidade de se recuperar e isso foi antes de eu terminar a primeira série. Depois de apenas duas séries eu não conseguia respirar, pensar ou me mover. Eu caí de joelhos, engolindo ar, e me trouxeram oxigênio”, conta Nick Harding, do Telegraph, um após experimentar o treino. “Um dos treinadores me disse que mesmo um campeão de corrida de obstáculos só conseguiu completar 3 séries”, acrescenta.
Ao longo do percurso, são colocados estrategicamente estações de oxigênio e baldes vazios onde os participantes podem vomitar quando seu corpo atinge o limite e começa a falhar. “O objetivo do flatline é provar todos os elementos de força e resistência do ser humano com exercícios cada vez mais difíceis ao longo de um período de 45 minutos”, explicou a Gymbox .
“Essa é a rotina de treinamento mais exigente que existe, que combina um circuito muito difícil e faz com que seja quase impossível completar a aula”, diz o treinador Firas Iskandarani, um dos criadores do flatline. A Dra. Emma Bradley admite em um vídeo divulgado pela própria academia que sofrer dores no peito, falta de ar, vômitos, desmaios ou parada cardíaca são alguns dos riscos envolvidos neste tipo de classe.
O treinador Gonzalo Maganto tem uma posição muito clara sobre essa nova atividade física. “Essa prática não leva em conta os parâmetros de segurança que qualquer esporte deve respeitar. Ele não pode ser considerado um exercício de esportes, pois não respeita as regras. Luta contra os mecanismos corporais e leva o nosso corpo à agonia. Só traz danos à saúde”, alerta Maganto.
O personal trainer e nutricionista Miguel Naranjo diz que o sucesso do flatline não tem relação com uma melhoria do corpo. “Essa é uma prática totalmente desnecessária. Eu acho que sua popularidade se deve mais a um componente emocional. É uma questão de ego. É um desafio que gera rivalidade e desejo de mostrar que podemos aguentar mais do que outros”, opina.
Enquanto isso, no ginásio Gymbox há uma lista de espera para experimentar esse treinamento extremo.
Fonte: El País
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