Ouvir música talvez seja o que mais nos aproxima de um momento de relaxamento e reflexão. Até por conta disso, não recomendo aos corredores que se prendam a ela na hora da atividade física. A corrida deve ser, por si só, algo prazeroso, e não deve exigir que ninguém utilize nenhum método para se esquecer de que está correndo e aliviar alguma dor ou cansaço. Fazer isso é totalmente contrário à própria razão do correr.

Você deve buscar na corrida um estímulo adequado, para que ela seja curtida de forma isolada. Quando corremos, nos erguemos acima do mundo atual, tão cheio de mazelas e aborrecimentos, e nos elevamos para outro estado mental de consciência. Se realizada de forma consciente, pode se transformar em elemento primário de nossa existência, promovendo uma espécie de renovação em todo o nosso organismo. Ela agita todos os nossos órgãos a se colocarem no seu maior momento de rendimento, erguendo suas funções vitais ao auge de todas as suas possibilidades e estimula as células, elevando todo o sistema imunológico.

Quando desenvolvida de maneira correta, ou seja, de forma a manter sempre o oxigênio em seu processo metabólico, a corrida passa a ser uma verdadeira música que estala em nossas almas, nos transportando a paragens desconhecidas. Ao atingirmos esse estado mental de equilíbrio, podemos sentir algo superior, que nos leva a um momento de paz, serenidade e muito prazer.

E é esse momento de atingir uma serenidade transcendental e ouvir a música dentro da mente que todo corredor deve buscar. É exatamente quando isso acontece que tudo começa a se desenvolver a favor do corpo, melhorando todas as suas funções. Nesse patamar, a corrida funciona como forma de elevação física e mental, dando ao nosso organismo a oportunidade de se desintoxicar das dificuldades externas e reparar todas as células que o compõem.

Para a ocorrência desse processo, como já dito, é necessária abundância de oxigênio. Só assim a corrida é capaz de oferecer esse estado de paz e relaxamento, pois age em todo o processo respiratório e intensifica a circulação sanguínea, que passa de um estado passivo e de inércia a um de extraordinário dinamismo e intensidade de ação.

Meu querido leitor, peço que passe a cuidar mais de você e se esforce para alcançar esta possibilidade de transformar a sua corrida toda em algo belo e prazeroso. Não corra para uma plateia que simplesmente não existe, se esgoelando de tanto esforço inútil e que pode ser prejudicial à sua saúde. Desligue-se dos aparelhos sonoros e corra apenas para você, percebendo toda a beleza deste esporte. Sinta a música que a natureza está sempre a lhe oferecer.

(Matéria publicada na Revista O2 – edição #132 – abril de 2014)

*Por Nuno Cobra