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A questão das categorias de corridas no Brasil

Dia desses concluí uma prova no interior paulista. Ao sair do funil da arena me aguardava um senhor panfletando sobre um evento de corrida em outra cidade interiorana. Prova minúscula. Causou estranheza, no entanto, que a corrida dava premiação em dinheiro.

Corredor da raiz conhece bem as populares corridas chamadas “bate-sacos”. Não olhem com preconceito para essas provas, elas foram o alicerce do running atual, importantíssimas, diga-se.

Corrida quase que comunitárias, sem maiores estruturas do que uma faixa largada/chegada, um megafone, água e um medalhão ao final. Mas outra característica marcante deste modelo de corrida se destacava no panfleto: premiação em dinheiro até mesmo para faixas etárias.

Uma incoerência para quem vê o business corrida do lado de fora. “Como assim essa ‘provinha’ distribui dinheiro e algumas mega-competições não?”. A prova do panfleto distribuía pouquíssimo, mas dava R$ 100 ao primeiro de cada faixa no masculino e feminino.

Há pouco tempo uma horda de corredores se movimentava prova após prova atrás das premiações. Era essa competitividade que fazia aflorar bons atletas. Tudo muito legal. Diria até romântico. Corta! Estamos em 2017 e a premiação por categoria em dinheiro é irrisória e a tendência é que se extingua.

 

 

A causa principal não é o valor distribuído, mas a dor de cabeça para gerenciar a premiação por conta de alguns atletas que tentam “trapacear”. Isso leva o organizador a colocar de lado o pagamento de premiação por faixa etária.

Entre as burlas mais comuns estão a troca do número de peito entre atletas de faixas etárias distintas, a troca do número entre gêneros, além do corte de caminho puro e simples. Para o organizador, esse controle é oneroso, assim, simplesmente opta pelo caminho mais fácil e curto: a extinção da premiação.

Isso, claro, é triste para os corredores honestos e que correm no limite da dor em busca de pódios. Vários deles, aliás, têm somente a premiação de competições como fonte de renda.

É essa situação que muitas vezes leva o atleta a abandonar o esporte competitivo. E também serve para entender por que, mesmo com o aumento no número de participantes nas corridas, não revelamos mais novos talentos…

Culpa de nós mesmos. Culpa do “jeitinho”.

Harry Thomas Jr

Jornalista especializado em corridas de rua desde 1999, Harry competiu pela primeira vez em 1994 e desde então já completou 31 maratonas – sendo três sub 3 horas: São Paulo (2h59min30), Nova York (2h58min20) e Blumenau (2h58min10). Também concluiu seis Ultratrails: 60K Ultratrail Putaendo, 67K Ultratrail Torres del Paine, 50K Indomit Costa Esmeralda e os 50K Ultra Fiord por três vezes. Já correu em países como Argentina, Chile, Estados Unidos, Grécia e Japão.

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