Eu não tenho medo de compartilhar meus fracassos. Não sou de esconder minhas fraquezas. A humanidade liberta…
Já estive presa no sufoco da imagem, sei o quanto é ruim (viver com a corda no pescoço, sem chão, sem si). Parte da minha jornada de auto conhecimento (mérito meu no esporte) foi reconhecer as facetas que eu mesma criava para me esconder de mim mesma. Hoje, sei reconhecê-las de longe, e ligo o alerta vermelho para não cair nas piores armadilhas do ego.
Mas voltando à superfície… o que aconteceu foi que uma virose me pegou na semana passada, na véspera do Big Biker Itanhandu, em Minas Gerais.
Eu estava tão animada para essa prova… Adoro a região e o percurso. Adoro estar com os meus amigos depois da exaustão, sentados sem sentir as pernas, imundos, compartilhando as pequenas vitórias e derrotas do dia, as bizarrices e os momentos em que tudo doeu. O plano que deu certo e o outro que não deu.
Estava (ainda estou – agora, reprimida pelo meu repouso forçado) com muita energia, afim de subir aquela serra do Palmital, sem deixar sobrar uma gota de esforço. Achei que pudesse melhorar a tempo, e planejava melhorar meu tempo. Me senti melhor no sábado, mas no domingo… não deu.
No começo da madrugada, percebi que as coisas não estavam saindo conforme planejadas, não estava conseguindo dormir. Metade por causa da chuva forte que me atordoou, outra metade por estar suando frio.
Quando o despertador tocou – a tempo de tomar café da manhã tranquila, me arrumar e chegar no local da largada com tempo suficiente para fazer um bom aquecimento – levantei da cama e comecei a arrumar as coisas para voltar para casa. Na hora foi duro, muito duro tomar essa decisão.
“No physical pain matches the emotional ones”(“Nenhuma dor física supera uma dor emocional”). Essa máxima prevalece.
A dor física me parece mais tangível, visível, mensurável, explicável… Já essa outra categoria, a emocional, não tem contorno, cor, forma…
É difícil desviar o pensamento do “se eu tivesse”, “se eu pudesse”, “que droga”, “que pena”… Mas é possível.
Então, no carro, enquanto todos largavam na prova, e eu largando a prova, aos poucos… pude começar a sentir, lá no fundo, um pingo de orgulho. Foi a primeira vez que eu tive coragem de respeitar uma limitação física, e desistir de um desafio. Normalmente, eu até gosto quando a aventura ganha uma pitada de superação extra.
Tenho no meu currículo o incrível feito (estou sendo irônica) de, por duas vezes, competir com ossos quebrados no meu corpo – e em ambas, tive que passar por reparos cirúrgicos. Tenho, nessa lista, uma Brasil Ride — feita praticamente inteira com um ombro luxado e ligamento rompido (no começo da 2ª etapa). Tenho outras provas mais curtas, nas quais larguei com febre. No Caminho de Santiago de Compostela tive problemas com o fit (o qual eu não havia feito – e nem tinha conhecimento para fazer eu mesma) e meu braço formigava a ponto de não conseguir pentear meu cabelo. Pedalei seis dias assim. Foram 900 km.
Então… me entende? O tamanho dessa conquista? Eu me achava corajosa quando me jogava em uma aventura desconhecida, superava a dor e os grandes desafios… Mas estou me achando infinitamente mais corajosa agora, ao poder focar no meu bem-estar como um todo. Dar um passo atrás, para dar dois à frente.
Talvez, não esteja tão forte fisicamente quanto poderia estar, mas estou com a alma fortalecida, por simplesmente cuidar bem da minha casinha. E isso não tem preço.
O exercício da alma não é na academia… e os títulos tão passageiros, momentâneos, coisas que o homem inventou. Já a nossa saúde…
Eu aprendi .:)
Obrigada a todos os meus amigos que me apoiam e estão ao meu lado, na saúde e na doença. Obrigada Specialized WOMEN pelas palavras. Post no Facebook.
“O que é Your Ride. Your Rules? Às vezes temos que respeitar nossos próprios limites, as nossas adversidades, as nossas regras, e dar um passo atrás hoje para, posteriormente, dar diversos passos a frente. É isso aí, Vivi – Your Ride, Your Rules !!!”
MY RIDE, MY RULES
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