Não sei se sabem, mas corro muito na rua. Faz parte do meu cotidiano de corredor quando preciso otimizar o tempo que fica escasso para ir ao parque que fica a exatos 5 km de distância, ou mesmo quando quero economizar tempo e vou indo e voltando ao parque quando treinos exigem quilometragem acima de 16km.
Já abordamos nesta Coluna do Harry, o perigo que representam as calçadas brasileiras, um verdadeiro trail run urbano, com seus obstáculos, buracos, saídas de carros, pedestres sem empatia com a urbe e ligados em suas telas de smartphones como se estivessem deitados nos sofás de suas casas.
Para correr nas calçadas é necessário atenção, paciência e estratégias de segurança.
Correr na rua é um constante aprendizado. Mais experiências e vivências pessoais e novos insights de como fazer uma “corrida defensiva” devem ser observados e colocados em prática.
Não pensem que só porque você é corredor e que está motivando e buscando saúde e qualidade de vida que parte dos motoristas vai te tratar bem.
Iguala-se quase ao caos brasileiro de segurança que ciclistas enfrentam no dia a dia.
Portanto correr na rua e no meio fio é fora de cogitação. Rua é só para desviar de algum obstáculo ou multidão nas calçadas (pego algumas faculdades pelo caminho e a quantidade de estudantes na rua é enorme em determinados horários).
Esse desvio da calçada para rua sempre deve ser feito no contra-fluxo. O corredor deve ter o controle visual da situação. Já me peguei no sentido do fluxo dando aquele “toquinho” com um dos pés no meio fio para então voltar. Um erro. Basta meio corpo por centésimos de segundos para ser pego por um veículo.
Lembre-se: treino na rua é para rodagem. Se quiser fazer treino de qualidade, ele deve ser feito em lugares específicos. Assim, simplesmente parar de correr momentaneamente em vez de cometer um desvio imprudente é o melhor a fazer.
Outra dica que dou e poupou minha vida dias atrás é a regra dos “cinco segundos”, que é o tempo que levo para voltar a correr depois que o sinal/semáforo fica verde para mim.
Imaginem: um dos cruzamentos mais conhecidos de São Paulo da Av. Angélica com a Av. Higienópolis; sinal vermelho para mim no sentido da Angélica; ele fica verde e posso começar a correr, certo? Não! Se eu tivesse seguido esse caminho natural, ao chegar após o meio da rua um ônibus cujo motorista irresponsável furou o amarelo/vermelho teria me pego em cheio na faixa de pedestres.
Com os cinco segundos consigo gerenciar a situação. Os carros param definitivamente, consigo observar o momento estático, e não a efervescência da mudança dos carros começando os movimentos de parar ou ir.
A ansiedade em voltar a correr é que faz as pessoas não quererem usar a regra dos “cinco segundos”. Então, assim que a luz fica verde não podem perder tempo, e aí mais uma vez volto no já dito: rua não é para treino de qualidade.
Há ainda outro macetinho que gosto de usar nos cruzamentos e evita essa ansiedade de quando o caminho está vermelho para mim. Uns ficam dando aqueles pulinhos saltitantes, outros param de vez.
Eu faço mini corridas de 20 metros indo e voltando de um ponto a outro. Ou seja, não fico parado, mudando a frequência cardíaca, nem dando pulinhos que dizem ser inócuos.
Enfim, nenhum tempo no cronômetro, mesmo com a finalidade de baixar sua marca, faz valer o tempo que se perde com esses cinco segundos, que podem representar exatamente tempo que lhe resta na Terra.
Portanto, nas médias e grandes cidades onde a pressa, a falta de cidadania e empatia imperam, devemos praticar a corrida defensiva e nunca confiar que terceiros possam (embora deveriam) cumprir leis à risca.
Bons treinos!
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