Andam banalizando as distâncias no trail running

Atualizado em 21 de dezembro de 2016

É crescente o número de atletas migrando do asfalto para as trilhas. Acho isso bárbaro. Correr na montanha é uma experiência absolutamente sensacional que todo o atleta deveria experimentar pelo menos uma vez na vida.

Mas tem me chamado a atenção o grande número de pessoas que ao realizarem essa troca migram direto para provas de 50 km ou mais sem a menor ideia do perrengue que terão pela frente.

Corrida de rua e trail running são dois esportes totalmente diferentes. Água e vinho. Você pode ser capaz de voar baixo correndo 10 km no asfalto, chorar lágrimas de sangue em uma prova com a mesma distância na montanha e ainda levar um tempo muito acima do esperado para cruzar a linha de chegada.

 

 

Acredito que, assim como ocorre com o aumento progressivo das distâncias no asfalto, o mesmo deveria acontecer no trail running. Conheci muitas pessoas que desembarcaram de paraquedas para percorrer os 100 km do El Cruce na Patagônia sem nunca terem completado sequer uma meia-maratona na montanha. Ou o Desafio das Serras, uma prova técnica, com altimetria extremamente exigente e dois dias de duração.

A montanha é um ambiente hostil, perigoso e desafiador que exige do corredor um imenso respeito, preparo físico e mental. Principalmente nas provas de ultra. Ser socorrido ou desistir de seguir em frente em uma prova de trail running é muito complicado. Você vai ter que se virar de alguma forma para chegar até um ponto no qual possa ser resgatado pela organização. É um pesadelo para o atleta e para o staff.

Como diz o código dos samurais: “A perfeição é uma montanha impossível de escalar e que deve ser escalada um pouco a cada dia”. Vale a reflexão.