O uso de calças ou meias compressivas entre ciclistas é muito comum. Mas será que a compressão ajuda em algo? As evidências das ciências do esporte nos ajudam a entender um pouco melhor essa questão e traçar algumas conclusões. Tomados em conjunto, os estudos disponíveis sugerem que a compressão tem um papel importante durante a recuperação, mas não durante o exercício em si. Vamos entender um pouco mais sobre o efeito das calças ou meias de compressão para ciclistas.
Em um estudo sobre o assunto, o pesquisador Aaron Scanlan* e seus colaboradores avaliaram que a compressão nos membros inferiores pelo uso de uma calça compressiva teve benefícios fisiológicos limitados e não aumentaram o desempenho em um contrarrelógio de uma hora. Neste estudo, com ciclistas bem treinados e média de idade de 20 anos, a condição de compressão durante o exercício ocasionou algumas mudanças pequenas em parâmetros fisiológicos, as quais não tiveram impacto no desempenho no contrarrelógio. Essas mudanças em parâmetros fisiológicos também foram analisadas em outra pesquisa, conduzida por Driller e Halson*. Eles identificaram uma redução na frequência cardíaca com o uso de calça compressiva durante um teste onde ciclistas treinados (idade média de 30 anos) pedalaram 15 min em carga constante seguidos por 15 min em formato contrarrelógio. Contudo, o desempenho (potência e distância, por exemplo) não mudou.
Se durante o exercício o benefício das calças ou meias de compressão para ciclistas parece ser muito pequeno ou não ser significativo, há evidências sugerindo que a compressão tem efeitos positivos na recuperação. Glanville e Hamlin* fizeram testes com atletas bem treinados (média de idade de 33 anos) usando uma calça compressiva por 24 h antes de realizar um teste contrarrelógio de 40 km. Depois os atletas usaram a roupa compressiva por mais 24 h e realizaram outro contrarrelógio de 40 km. No segundo contrarrelógio os atletas conseguiram aumentar em torno de 3,3% a potência média produzida, sem diferenças na percepção do esforço e consumo de oxigênio. Os autores sugeriram que usar a compressão durante a recuperação pode ser vantajoso no caso de exercícios intensos realizados em dias repetidos. Também considerando essa condição de pouco tempo de recuperação entre as sessões de exercício, Argus* e seus colaboradores mostraram que ciclistas bem treinados (idade média de 31 anos) podem se beneficiar da compressão durante a recuperação em exercícios de alta intensidade. Eles submeteram ciclistas a quatro blocos de esforço, cada bloco com três sprints máximos de 30 segundos de duração, com 20 minutos de intervalo entre cada sprint. No período de recuperação os atletas eram submetidos a compressão, eletroestimulação neuromuscular, umidificação aquecida e uma condição de controle, sem nenhuma intervenção. Os resultados mostraram que a compressão (junto com a umidificação aquecida) teve os melhores efeitos sobre o desempenho nos sprints repetidos.
Então, com base nesses estudos, podemos dizer que enquanto o uso da compressão durante o exercício parece fazer pouco efeito no desempenho, ela pode ser uma estratégia boa para a recuperação muscular em uma condição de exercícios realizados com pouco intervalo entre as sessões. Frisando que nenhum estudo apontou riscos à saúde por usar roupas compressivas.
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