A maioria das pessoas começa a correr, muda uma coisinha aqui e ali e, no final, passa a usar esse jeito de correr para o resto da vida, sem considerar que a maneira como corremos poderia ser adaptada conforme vamos mudando nosso desempenho, nosso corpo (nossa idade!), objetivos, atitudes, etc. Mas, da mesma forma que atualizamos aplicativos de um smartphone para melhorar o desempenho do aparelho constantemente, é importante atualizarmos nosso próprio corpo (e até atualizar sua corrida), conforme as mudanças naturais e tecnológicas vão ocorrendo.
Vamos começar falando dos calçados. É impossível deixar de ficar curioso quando passamos em frente a uma loja de calçados esportivos e deparamos com alguma novidade, um produto que promete evoluir nossa corrida, com amortecedores mais eficientes ou materiais que são usados por seres humanos no espaço. Mas olhamos o preço e nos convencemos que aquele modelo que usamos (geralmente, mais barato) é o suficiente. Não estou dizendo para abrir a carteira e sair comprando sempre o último modelo, mas ficar atento a esses novos produtos é sempre importante quando você deseja atualizar sua corrida. Repare se existem pessoas usando, tente conhecer alguém que usa. Se o produto for bom, vai ficar mais tempo no mercado, os concorrentes farão um modelo semelhante e a tendência é que o preço fique mais acessível — aí, poderá adquiri-lo sem dúvidas. Se você não ficar atento, vai se confundir com outros lançamentos e acabar comprando um novo pelo preço e/ou pelas opiniões fornecidas por um vendedor, que em alguns casos quer vender aquele que tem em maior quantidade no estoque.
Um bom calçado vai permitir um melhor desempenho do seu corpo, reduzindo as chances de lesões, principalmente musculares. De modo geral (ou seja, não é uma regra), pessoas com pés mais rígidos seriam mais favorecidas com calçados mais macios e pessoas com pés mais flexíveis, com calçados mais rígidos. Isso se deve à necessidade que o corpo tem de distribuir os movimentos pelo corpo durante uma corrida. Quando temos uma articulação muito rígida, uma outra (seja próxima dela ou associada a ela, mesmo que distante) tentará compensar a rigidez da primeira, realizando movimentos mais amplos. Se essa segunda não conseguir compensar, uma terceira será utilizada, forçando mais do que elas foram preparadas. É o caso de corredores com pouca mobilidade no quadril, que tendem a forçar mais a coluna ou o tornozelo, utilizando mais os músculos da lombar e da panturrilha. O contrário também ocorre. Ou seja, quando existem articulações mais móveis que o necessário, outras associadas irão realizar movimentos menores pelo mesmo mecanismo de compensação. Por conta disso, um calçado mais macio reduz os efeitos de um pé mais rígido e um tênis mais rígido reduz os efeitos de um pé mais flexível.
E os acessórios então. Os relógios com GPS, agora, possuem medidores de frequência cardíaca, temperatura ambiente, umidade relativa do ar, alertas sonoros, indicam sua velocidade, quantidade de passos, comparam as corridas anteriores, mostram até seu gasto energético… enfim, é uma base de dados monstruosa que pode te acompanhar 24 horas e fazer você conhecer mais o seu próprio corpo. Isso não quer dizer que você deveria ter um desses, mas com certeza tornaria os treinos e provas mais interessantes. Mais uma maneira de atualizar sua corrida.
Conhecer o seu próprio corpo permite saber até onde (e como) ele pode chegar. Não é difícil encontrar corredores que relatam sempre o mesmo pace (tempo necessário para percorrerem um quilômetro) há anos, por considerarem-no o suficiente ou aquele que os fazem terminarem provas confortavelmente. Essa zona de conforto realmente pode ser segura, mas não quer dizer que baixar ou aumentar esse tempo seja perigoso. Ou seja, durante os treinos é válido tentar realizar essas mudanças de ritmo para testar subidas, descidas, inclinações, curvas e mudanças de terreno… para saber como seu corpo se comporta, nem que seja para constatar que o ritmo que você corria já era o ideal. E vale a pena lembrar que aumentar ou reduzir o ritmo nas primeiras vezes vai gerar mais cansaço, mas não quer mais adiante esse desgaste será o mesmo.
Outra coisa que deixa todos desconfiados é a enxurrada de treinos específicos que prometem melhorar o rendimento das corridas. Pilates, treinamentos funcionais (CrossFit, Core360, TRX, etc.), Yoga, danças, alongamentos, agachamentos, subir escadas entre outros tipos diversos de cross-training. Se vai ser bom ou não para você, só testando cada um deles. Sério! Exercitar diversos grupos musculares em modalidades diferentes da corrida pode facilitar a ação muscular e amplitude de suas articulações, facilitando os movimentos durante sua prática. Por exemplo: quando corremos na subida, precisamos recrutar mais os músculos que nos dão impulsão, como panturrilha e glúteos. Se a pessoa costuma praticar uma outra modalidade que exija mais destes músculos, durante uma prova que tenha mais subidas ela provavelmente estará tão (ou mais) preparada quanto uma pessoa que treina subidas apenas correndo nelas.
Em suma, a melhor sugestão é que você não se feche as novidades que estão aparecendo. Muitas das maneiras de atualizar a corrida podem te ajudar em diversos aspectos, inclusive na redução de desconfortos físicos como dores, limitações de movimentos e tensões musculares. Mas, antes de investir seu tempo e dinheiro nelas, pesquise bem antes, pela internet e por pessoas de sua confiança. Do contrário, se está satisfeito com sua situação, melhor ainda. O importante é não deixar de ter aquele prazer ao final da corrida. Mesmo que seja com a camiseta pesada de suor, usando aquele tênis rasgado, ou ainda sem fazer ideia do tempo que levou, nem de quanto correu.
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