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Em 1992, eu mal sabia o x da Xuxa, mas escrevi minha primeira carta de amor. O menino tinha seus encantos. Talvez fosse o cabelo tigelinha da época ou o déficit de atenção. Fato é que mais de 20 anos se passaram e não lembro ao certo o que dizia a tal carta, mas posso sentir o coração disparado igualzinho ao dia em que Victor bateu o olho naquele punhado de rabiscos.
As primeiras vezes têm esse poder mágico. Talvez tenha a ver com esse quê de rito de passagem, de marcarem para sempre. Ninguém permanece o mesmo depois de uma primeira vez. Algo muda nossa estrutura por dentro. Elas são tão poderosas que até mesmo quando envolvem situações traumáticas, nosso subconsciente dá um jeitinho de tornar a coisa melhor do que foi de fato.
Com a corrida não é diferente. Alguém se lembra com detalhes da dor chata nas costelas depois de ter terminado pela primeira vez uma prova? Ou da falta de ar, do cansaço, das bolhas? É da linha de chegada, das pessoas que nos motivaram, das cores, do barulho da torcida e daquela explosão de endorfina que nos lembramos.
Quando tive a péssima ideia de correr minha primeira meia maratona sem o menor preparo, não é a dor que me tirou das pistas por um mês que me vem à mente. Nem das sessões de fisioterapia. O que marcou mesmo foi o companheirismo de uma desconhecida, que ao me ver me arrastando, desacelerou o passo, segurou minha mão e cruzou a linha de chegada comigo.
As primeiras vezes transformam e nos fazem sentir novamente cada passada, cada gota de suor. Nos transportam a qualquer hora para os momentos que tanto nos foram caros. Talvez isso explique porque corremos. Porque temos a certeza de sempre poder revisitar um momento especial e, ao mesmo tempo, colecionar uma infinidade de primeiras vezes, afinal, um treino nunca é igual ao outro, ainda que na mesma distância ou lugar.
Corremos porque amamos o sabor da estreia, mesmo com o ônus do coração disparado. Está certo que esse desconhecido assusta, faz suar frio, dá dor de barriga, mas simplesmente não conseguimos evitar esse tal efeito primeira vez. No final das contas, ele não difere do primeiro amor, do primeiro dia de aula, ou de tantas outras primeiras vezes, que nos levarão sempre para o melhor lugar: para dentro de nós.
Vivendo o frio na barriga de quem compartilhou suas ideias pela primeira vez em um dos maiores sites de corrida do Brasil, conto com você, leitor, para me dar mais fortes emoções, lendo, opinando, odiando. E que venham as próximas estreias.
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