Foi Wanderlei de Oliveira, meu treinador no início da “carreira”, o primeiro a me falar a dura verdade: corredor que se preze está sempre com dor. Quem faz musculação sabe que o ganho de massa se dá por meio de microcontusões musculares, cujo processo de regeneração vai causando o aumento dos músculos em si. É o manjadíssimo “no pain, no gain”. Na corrida, a evolução não é exatamente igual ao do mundo das academias – mas ele também envolve dores, contusões e, acima de tudo, muitos aprendizados.
Quem começa a correr logo aprende que irá desenvolver músculos que nunca achou que tivesse. Eu, por exemplo, passei 37 anos de vida acreditando que a parte posterior da minha coxa era lisa, que havia ali um músculo ou um grupo de músculos absolutamente chapado. Depois de um tempo, eu levei um susto quando percebi que um músculo saltava ali do meio da coxa quando dobrava a perna. Cheguei a pensar que era um calombo, um inchaço. Mas era apenas um “novo” músculo. O mesmo aconteceu na lateral das panturrilhas, nas canelas e até no peito do pé. Esses músculos se desenvolvem exatamente como na malhação de academia: por meio de microcontusões. Só que, muitas vezes, as microcontusões resolvem virar macrocontusões. E é aí que o bicho pega.
É por isso que o Wanderlei avisava logo quem estava começando a correr: quer viver sem dor alguma? Fique em casa. Porque correr exige sacrifícios, não se iludam. Não é algo natural na vida do homem moderno, muito embora nossos antepassados devam ter corrido bastante para fugir de um dinossauro ou para caçar um mamute e alimentar a família na caverna. Há pessoas que passam a vida inteira sem correr. No máximo, um trote para escapar de ser atropelado por um ônibus ou deram suas corridinhas nos tempos de criança – e, mesmo assim, se foram de uma geração de crianças que ainda corriam, já que hoje em dia quem corre é o videogame. Apesar de tudo isso, nosso corpo está, sim, preparado para correr. Correr por mais tempo e com menos sofrimento vai depender de como vamos desenvolver o conjunto, uma tarefa que, como não poderia deixar de ser, tem um custo.
Corredor que é corredor está sempre tentando melhorar tempos e forçando os próprios limites. Porque é assim que a gente cresce, em qualquer campo do conhecimento humano. E, sendo assim, é quase impossível toparmos com um atleta que não está com uma fisgadinha na coxa, um tornozelo meio chumbado, uma fascite plantar, uma fratura de estresse, uma unha roxa ou, no mínimo, uma famigerada bolha no calcanhar. Preciso confessar que já tive todos esses tipos de contusões e confusão. Minha única façanha na corrida é jamais ter levado um tombo, o que chega a ser incrível. Quase todos os meus amigos já passaram pelas mesmas agruras e, de quebra, muitos deles também já tiveram o desprazer de se estatelar no chão, depois de tropeçar numa raiz de árvore ou numa maldita latinha de cerveja largada por um imbecil. Mas todos eles estão vivos, correndo – e certamente viverão muito mais do que se tivessem preferido o conforto do sofá e do ar condicionado.
Por último, como mensagem de ânimo a todos os leitores que estão contundidos, eu não poderia deixar de compartilhar outro ensinamento passado pelo sábio Wanderlei: dor de treino se cura treinando. Parece louco, mas é a mais pura verdade.
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