Já inventaram corridas de um, dois e meio, cinco, dez, 15, 21 e 42 km. Existem provas ultralongas e na neve, no deserto, na selva, nas montanhas, na praia, na lama. Conheço as maratonas do Sol da Meia-Noite, na Escandinávia, e a de Veneza, em meio às ruelas cercadas por canais. Temos provas para a terceira idade, para crianças e para os que fazem questão de correr com seus cãezinhos. Eu poderia usar toda a coluna para provar a vocês que simplesmente não há mais o que ser inventado quando o assunto é corrida.
Pois bem. Justamente quando eu me preparava para discorrer sobre esse tema, me liga o Fausto Fonseca, editor da O2, para contar que esta edição será ilustrada por fotos de atletas como vieram ao mundo. Fotos artísticas, é bom que se esclareça, porque, pelo que eu saiba, a O2 não pretende tomar o lugar da Playboy. A informação, além de destruir os meus planos, me despertou a seguinte indagação: já foi inventada uma maratona para corredores pelados?
Eu não duvido de mais nada. Como diria um amigo, “não há o que não haja”. Mas acho bastante improvável que alguém se atreva a correr 42 km sacolejando os balangandãs por aí. Entretanto, a onda do culto ao corpo é tão grande que não duvido que algumas pessoas mais já venham praticando a “desnudorrida” (vamos chamar assim essa modalidade). E daí para aparecer uma prova com atletas pelados, fiscais nus e distribuidores de água em pelo será um passo.
Pensando sobre o que faria se fosse convidado a regulamentar tal esporte, algo que me ocorre: seria justo permitir o uso de tênis? Alguém que calça tênis está pelado ou apenas quase pelado? Ora, para mim, pelado é pelado. Quer correr nu, nada de tênis!
Os corredores pelados, por definição, deveriam ser uns puristas — e purista que é purista não faz concessões. A modalidade da “desnudorrida” deveria, portanto, ser praticada descalça. Quer correr nu, amigo? Então aguente as bolhas e os cortes nas solas dos pés. Os animais — os verdadeiros puristas do nosso planeta — correm pelados desde que o mundo é mundo. Fora aqueles poodles de madames frescas, que só saem na chuva usando sapatinhos impermeáveis, jamais vi bichos com algo nos pés. Quando eu era moleque em Madureira, só colocava sapato na hora de ir para a escola, e ainda obrigado. No final das férias, as solas dos meus pés estavam tão grossas que eu conseguia andar tranquilamente no asfalto, mesmo num dia de 42°C à sombra. E eu jogava bola o dia inteiro, às vezes em campinhos de brita.
Não acredito que a corrida de pelados interessaria aos canais esportivos, pois certamente geraria protestos de setores mais conservadores. Mas talvez fosse um material interessante para os canais adultos. Como há taras de todos os tipos e tarados por todas as coisas, pode ser que exista um público específico para as provas de nudistas — especialmente se vierem acompanhadas de recursos como close-ups e câmera lenta. Eu jamais praticaria ou acompanharia uma prova de gente pelada, mas, como já disse, há louco para tudo. As questões remanescentes são: como alfinetar a numeração nos atletas? E a segunda, inquietante: o chip vai aonde?
(Coluna publicada na Revista O2, edição 152 de Janeiro/Fevereiro, de 2015)
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