Acordar, beber água e realizar um treino aeróbio de 20 a 60 minutos em intensidade leve a moderada… você consegue fazer isso se comprovadamente te ajudar a queimar mais gordura corporal? Com o objetivo de se atingir padrões estéticos cada vez mais rígidos, muitas pessoas optam por correr em jejum, a polêmica atividade aeróbia em jejum (AEJ), como recurso para tentar acelerar a perda de gordura.
A fundamentação teórica é que ao se praticar atividade física em jejum, devido aos baixos níveis de glicose e glicogênio, o organismo daria prioridade a queima da gordura como fonte de energia. E que além disso, este processo elevaria a adrenalina e o cortisol, aumentando a mobilização de gordura corporal. Mas será que o processo e os resultados de correr em jejum correspondem às expectativas?
Os dados encontrados da literatura não são muito consistentes. Por um lado, alguns estudos (De Bock et al., 2005; Maughan, 2010; Paoli et al, 2011) nos trazem benefícios, e comprovam que a AEJ propicia agudamente uma maior quebra de reservas de gordura dentro dos músculos e que é capaz de melhorar a sensibilidade insulínica e aumentar a quantidade de mitocôndrias nas células musculares (Bartlett et al, 2013).
Porém, a maior parte dos estudos demostra que a perda de gordura oxidada durante a AEJ (em intensidade leve) é aparentemente inexpressiva para a redução da gordura corporal como um todo.
Se o exercício for intenso ou prolongado sob estado de jejum, a fadiga aparece em decorrência da diminuição da concentração de glicogênio. Realizar atividade física intensa em estado alimentado nos traz mais benefícios, já que aumenta a taxa metabólica, o gasto energético e mantém a oxidação de gorduras elevada por mais tempo, mesmo após sua execução.
Além disso, a prática de AEJ parece ocasionar um aumento significativo dos níveis de cortisol, hormônio catabólico e que estimula o uso de proteínas como fonte energética (Brownlee et al., 2005; Muller, 2015).
Quando comparamos o AEJ em mulheres com o consumo de um café da manhã leve antes do treino aeróbio, encontramos que o consumo do café da manhã melhora o humor pós-exercício e ajudar a controlar o apetite no almoço (Veassey et al., 2015) .
Dessa forma não existem comprovações científicas suficientes para sustentar a prática do AEJ, mas também não temos provas diretas para condenar totalmente a ideia de correr em jejum.
Empiricamente, vemos que algumas pessoas se adaptam e gostam dessa prática. Porém não se deve realizar AEJ sem controle alimentar feito por um profissional, com objetivo de emagrecimento.
Este recurso pode ser orientado por um nutricionista esportivo em consonância com o treinador considerando o nível de condicionamento do atleta, o tipo de treinamento idealizado e o objetivo do mesmo.
Referências
De Bock, K. et al. Exercise In The Fasted State Facilitates Fibre Type-Specific Intramyocellular Lipid Breakdown And Stimulates Glycogen Resynthesis In Humans. Journal of Physiology, v. 564, n. 2, p. 649-660, 2005.
Maughan, R.J. The Effects Of Fasting On Metabolism And Performance. Br J Sports Med. 2010 Jun;44(7):490-4. Epub 2010 – b May 19. Review. PubMed PMID: 20484315.
Paoli; A. et al. Exercising Fasting or Fed to Enhance Fat Loss? Influence of Food Intake on Respiratory Ratio and Excess Postexercise. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, 21, 48-54, 2011.
Bartlett, J.D. et al. Reduced Carbohydrate Availability Enhances Exercise-Induced P53 Signaling In Human Skeletal Muscle: Implications For Mitochondrial Biogenesis. American Journal of Physiology. 304, 6, 2013.
Brownlee, Kaye K, Moore, Alex W, & Hackney, Anthony C. (2005). Relationship between
circulating cortisol and testosterone: influence of physical exercise. Journal of sports science & medicine, 4(1), 76.
Muller, Fernanda. Efeito do jejum na resposta metabólica e hormonal
durante e após a execução de um exercíciopredominantemente aeróbio. Vila real: [s.n], 2015.
Veassey V. C. et al., The Effect of Breakfast Prior to Morning Exercise on Cognitive Performance, Mood and Appetite Later in the Day in Habitually Active Women. Nutrients 2015, 7(7), 5712-5732
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