O trabalho e a preocupação com o corpo são por demais recentes. Vou me usar como exemplo: quando eu corria na década de 1950 somente o fazia nas beiradas do rio Pardo e nos pastos daquela cidade. Para mim, a atividade era uma ferramenta em busca de prazer — e sem nenhuma pressão ou cobrança. Hoje a corrida deixou de ser uma atividade prazerosa e passou a ser uma necessidade vital para o corpo. Tornou-se uma verdadeira obrigação de toda pessoa para com ela mesma e uma forma de elevar seu nível de saúde. Passou a ser vista, também, como uma maneira de adquirir uma vida repleta de energia, vitalidade, bom humor e satisfação de viver.
Muitos esquecem, porém, que, para que isso aconteça, é necessário fazer da corrida algo agradável e sensato. Uma pessoa que se expõe a correr maratonas seguidas e está sempre pressionada a conquistar um tempo melhor é insensata e promove em seu corpo uma verdadeira agressão. Não podemos esquecer que corremos hoje para correr amanhã e sempre. De nada adianta correr por sete, oito ou até 12 anos, se chegarmos aos 50 quebrados e com lesões — e sem a possibilidade de exercer essa nossa importante paixão. Correr dessa forma é a coisa mais estúpida que você pode fazer com o seu corpo. E, em vez de ajudar o seu organismo, somente irá agredi-lo.
A corrida é, sem dúvida, a melhor e a mais natural forma de elevar a sua saúde, de lhe dar alegria e proporcionar uma vida melhor. Mas é necessário autocontrole para não cair nessa maluquice de cobranças. Preocupe-se menos com o tempo que faz nas competições, mesmo porque este será sempre o resultado do nível de preparo em que nos encontramos.
Precisamos, portanto, aprender a correr sem pressão. Se ninguém está nos cobrando, por que, então, fazer isso com nós mesmos? Não somos atletas profissionais e não devemos satisfação a ninguém. Devemos correr para sentir prazer, nada mais. Melhor do que um recorde é poder conquistar um corpo incrível que nunca seja lesado por nada para que, quando estivermos com a idade bem avançada, possamos continuar a praticar essa atividade sem nada que nos impeça. Aos 60, 70, 80 ou bem mais, a corrida vai continuar a nos dar a mesma sensação fantástica, pois estaremos fazendo coisas maravilhosas ao nosso corpo, espírito e mente. Se pudermos correr neste fantástico momento de nossa vida, justamente no qual me encontro agora, aos 76 anos, teremos uma vida muito especial, cheia de alegria e com aquela exuberância de vitalidade.
Encare a corrida, portanto, como um instrumento que fará com que você chegue à idade avançada sem uma coleção de doenças. Eu, por exemplo, corro há bem mais de 60 anos, e por ter feito isso sempre com uma frequência cardíaca baixa e periodicidade correta, dando oportunidade ao descanso e poupando minhas articulações, até hoje me sinto exuberante, com muita energia e em plena atividade profissional.
Lembre-se, querido leitor, que o que marca em nossa vida não é o melhor tempo, mas sim a conquista da melhor corrida dentro daquele tempo de que dispomos em cada competição. O prazer é fazer novas amizades, participar da competição e ter espírito cooperativo com nossos amigos corredores. É isso o que nos move e nos impulsiona fazer por toda a vida.
(Coluna publicada na Revista O2, edição #144 – maio de 2015)
*Por Nuno Cobra
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