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Dizem que a passagem do tempo é implacável. Apesar disso, desde o início dos tempos, a humanidade trata de se enfrentar com ela, tentar derrotá-la.
Pintam-se os cabelos, usam-se químicos diversos no rosto, tomam-se drágeas miraculosas; há quem faça palavras cruzadas contra a perda de memória, quem cuide de flores e frutas, quem escreva cartas ou pinte, quem cante ou conte histórias. Tudo isso para tornar melhor a terceira idade.
Eu corro.
Quando agora vejo se aproximar o dia em que vou completar 60 anos, penso em uma grande celebração, uma festa, um encontro comigo mesmo, com a vida, com a corrida.
Precisa ser algo especial, imagino. Afinal, 60 anos já não é pouca coisa. É a chegada daterceira idade. Quando nasci, em 1957, a expectativa média de vida dos brasileiros era de menos de 50 anos. Hoje, quando a expectativa média de vida no mundo é de pouco mais de 70 anos, o mundo dos sexagenários é o território da velhice. A partir dos 60, o sujeito está na Terceira Idade.
Fazendo piada (com muito de verdade), há quem diga que a velhice é uma maravilha porque quanto mais velho se fica, mais velho se quer ficar. O fato é que surgem muitas dúvidas, novos temores; ao lado deles, esperanças, perspectivas, vontades até então desconhecidas, desejos…
Eu só queria correr. E contar histórias. Juntar num pacote só meu prazer e minha profissão, meu trabalho e meu lazer.
Venho fazendo isso há algum tempo. Na passagem de 2013 para 2014, corri 460 quilômetros por São Paulo produzindo reportagens em cada canto para homenagear o aniversário da cidade. Agora mesmo, neste ano de 2016, empreendi outra jornada de mais de 400 quilômetros realizando 40 corridas em memória aos 40 anos transcorridos desde o assassinato do operário Manoel Fiel Filho nos porões da ditadura militar.
Na chegada à terceira idade, volto a usar a corrida como trabalho e lazer, ferramenta de busca e de pesquisa, não buscando coisa nenhuma a não ser saber um pouco mais sobre mim mesmo e sobre o mundo, compartilhar com meus leitores e eventuais companheiros de jornada esse aprendizado sobre a humanidade e a vida.
O desafio não é monstruoso, não quebra recordes nem desmancha paradigmas, mas é considerável para um sujeito como eu, mais pesado do que deveria, mais baixo do que gostaria, lento e cheio de chagas deixadas pelo tempo. Um cara comum, enfim, um tanto fora de forma, mas pronto para se desafiar, fazer uma bravata contra o tempo e a distância.
Na chegada da terceira idade, quero trilhar, ao longo do ano, uma distância equivalente à de sessenta maratonas. Não precisa fazer a conta, eu lhe digo já: são 2.532 quilômetros, já tendo arredondado para cima o tamanho da maratona, contado aqui em 42,2 quilômetros. O arrendondamento é mínimo; na ponta do lápis, a distância exata é de 2.531,7 quilômetros.
Tudo isso é um sonho que venho arquitetando já há algum tempo, e que vi se espatifar no início deste mês. Um terrível dor no joelho esquerdo me obrigou a encerrar um treino antes da hora; exames mais aprofundados revelaram que estava com uma fratura por estresse. Mais uma, a quarta ao longo de meus 18 anos de corrida.
Resultado: o treino de seis de novembro foi minha última corrida deste ano, por ordens médicas. A receita de superação da fratura por estresse é simples: tirar o estresse e deixar o resto por conta do corpo, que se recompõe da melhor maneira que puder, no menor tempo que lhe for permitido.
Tirar o estresse significa parar de correr. Significa deixar para as calendas o sonho das sessenta maratonas aos 60 anos.
Não!!!
Nunca mais vou ter esse idade. Nunca mais terei um “gancho” – uma desculpa, motivo, razão de ser, no jargão jornalístico — tão bom para discutir os problemas e desafios de velhice e do envelhecimento.
Então, trato de não parar. Se não posso correr, vou caminhar. Se o começo da jornada em 1º de janeiro de 2017 pode tornar muito difícil a conquista do resultado desejado, começo já, agora, aqui mesmo. E ainda dou de lambuja mais outro desafio, uma projeto dentro do projeto, uma empreitada filhote das 60 maratonas aos 60 anos.
No último dia 14 de novembro, quando faltavam exatamente três meses para meu aniversário, debutei no asfalto caminhando três quilômetros. Foram os primeiros passos de uma jornada de 600 quilômetros que pretendo completar no dia 14 de fevereiro de 2017: 600 quilômetros aos 60 anos ou, para os amigos, 600 aos 60.
No momento em que escrevo, passei dos primeiros dez quilômetros, entrevistei gente e contei várias histórias, tudo registrado no meu blog pessoal, que você acessa em http://lucenacorredor.blogspot.com.
Continuando a jornada, voltarei a trazer relatos, histórias e crônicas e reportagens a este espaço. Também estarei nas páginas da “O2” com artigos especiais sobre corridas e corredores veteranos ou veteraníssimos. Espero contar sempre com sua companhia; quem sabe, podemos até correr juntos em algum momento. Será um prazer e uma honra.
Vamo que vamo!
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