No post anterior contei como a corrida me ajudou na gravidez, pois queria guardar para depois a melhor parte que é: como a corrida me ajudou no parto.
Quando engravidei da Malu, em 2005, não tinha a menor ideia dos benefícios do parto normal, a única coisa que sabia era que doía muito. Por isso, acabei fazendo uma cesárea totalmente desnecessária, e tive um pós-parto cheio de dor que me impediu de curtir os primeiros dias com minha filha.
Desta vez, desde o dia em que o teste deu positivo, a única certeza que eu tinha era que queria um parto normal. Sempre soube que isso não dependeria só da minha vontade. Muitas coisas deveriam contribuir, mas principalmente meu corpo decidiria se seria normal ou cesárea.
Ter uma obstetra em quem eu confiava, uma enfermeira obstetra maravilhosa e uma gravidez caminhando muito bem já era um ótimo começo. E apesar de às vezes me sentir insegura, estava confiante de que conseguiria parir meu filho sem entrar na faca.
Com 39 semanas e 5 dias, no trabalho, senti a primeira dor que seria o sinal do trabalho de parto chegando. Eu não fazia ideia se era isso ou não, mas era uma dor diferente (e bem forte) que me fez pedir para o meu marido me levar ao hospital para saber do bebê.
Pois bem. No final do exame, e quase sendo liberada para ir para casa esperar, a bolsa estourou e ali começou uma das maiores aventuras da minha vida.
Com a corrida adquiri o dom de administrar muito bem a dor, e sabia que tinha chegado a hora de usar isso a meu favor. Contratar uma enfermeira obstetra para estar comigo nesse momento foi o melhor investimento da vida, e nem sei se teria conseguido sem ela.
Foram 8 horas de trabalho de parto, que começou com dores espaçadas e em pouco tempo virou uma sequência sem fim e sem intervalos de contrações pesadíssimas.
Me lembro que no pico de cada uma delas eu me fechava e lembrava das hortênsias da Serra do Rio do Rastro, na Uphill Marathon, uma das provas mais difíceis que já corri.
A dor que eu sentia parecia a aflição daquelas curvas da Serra, que moem as pernas e apunhalam o coração. Só que na Serra eu podia andar, já no parto não tinha como amenizar a dor.
Foram muitas, muitas contrações e não tinha nem um minuto entre elas para eu respirar. A cada uma eu pensava em desistir, assim como pensava em desistir a cada curva da Serra. Mas aí lembrei do mantra da vida: dá mais trabalho desistir e voltar do que ir adiante e terminar.
Meu marido, minha mãe, minha filha e a Cris (a enfermeira obstetra maravilhosa) estavam comigo e eu não queria mais nada naquele momento além daquelas pessoas me apoiando sem falar nada.
Fiquei em silêncio a maior parte das 8 horas. Só olhava para as pessoas e tentava me concentrar em aguentar aquela dor. Pensava na Serra, nas hortênsias e principalmente que a cada dor era meu filho chegando mais perto dos meus braços.
Depois de 7 horas eu tinha apenas dois dedos de dilatação, e comecei a duvidar da capacidade do meu corpo de parir naturalmente. Fui para a banheira com água quente, e ali minha mente ficou preta. Apagou tudo. Não lembrava mais de nada. Foi a pior dor que já senti na vida, e comecei a implorar pela anestesia.
O problema é que meia hora atrás eu estava quase sem dilatação, e anestesia sem dilatação estaciona o trabalho de parto. Continuei duvidando e implorando pela anestesia, quando a Cris me fez sair da banheira para ver a evolução da dilatação, e fez uma cara de surpresa feliz comunicando que eu estava com dilatação total.
Em MEIA HORA fui de dois dedos para dilatação total, e meu filho estava nascendo! Um verdadeiro sprint.
Depois disso não senti mais nada de dor, e em poucos minutos pude conhecer meu tão amado e esperado Nicolas.
Toda minha gravidez, parto e pós-parto (vou falar sobre isso também) me fizeram valorizar ainda mais minha história com a corrida.
Sei que sem todos os aprendizados e a força que a corrida me trouxe, tudo teria sido diferente e talvez eu não tivesse conseguido cruzar essa linha de chegada com tanta história legal para contar.
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