Experts

Por bem ou mal, correr sempre te impacta de alguma forma

Se eu te perguntasse quantas vezes você correu na última semana, você provavelmente responderia três, quatro, talvez até cinco; um ou outro louco, seis.

Agora, se eu te perguntar quantas vezes você transou na última semana (não vale para quem começou a namorar há menos de dois meses), acho que o volume perde para a corrida. Donde se conclui que correr é melhor que fazer essa outra coisa. Olha, dependendo de como foi essa outra coisa, é sim.

Porque a pior corrida, aquela que menos rende, a mais lenta, a mais monótona, num calor senegalês, na solidão, é boa. Há até uma explicação hormonal, como a liberação da endorfina, adrenalina e blá-blá-blá. Tanto faz. Já o pior sexo é o pior sexo e ponto.

A corrida sempre causa algum efeito. Ela nunca é ignorada. E cada pessoa a sente de um jeito. Para cada um de nós, ela dá seu alô de uma maneira diferente. Outro dia, por exemplo, encontrei uma amiga no final do treino dela. O “diálogo” foi assim:

— Oi-Anne-fiz-12-em-1h-e-fiz-em-jejum-mas-num-tô-cansada-nem-com-fome-porque-ontem-comi-demais-você-vai-fazer-quanto-tchau!!!!

Quando ela respirou, eu aproveitei para dar tchau e continuar meu treino. Achei ótimo. Detesto ficar de trololó, ainda mais quando a pessoa fica passando recibo de treino. A questão é: para essa colega atleta, a corrida dá um ânimo tal que ela não para de falar. Tem quem cante, dance. Uma amiga tem ataque de risada. Conheço um sujeito que precisa deitar, na rua mesmo. E já corri com um treinador que quando termina, ele para totalmente, estanca o corpo onde quer que esteja. Cada um no seu quadrado.

 

 

Em geral, eu fico criativa. Penso em textos mirabolantes, tenho ideias para desatar nós do trabalho, entrevisto mentalmente Deus, elaboro o que falar para meu filho em caso de nota boa e em todas as vezes que ele fica abaixo da média.

Também já fiquei deprê e cheguei ao ponto de hidratação da equipe chutando a santa. O treinador olhou dentro da minha alma e disse: “Calma, essa tristeza é normal em treino com mais de 2 horas. É sua cabeça pedindo para parar”. Mas quando ele falou isso já era tarde demais. Eu já tinha xingado ele de uns dez palavrões bem cabeludos e de tranças, tadinho.

O mais legal é que é praticamente impossível voltar para casa igual a quando você saiu quando foi correr. Você pode até voltar chateado, frustrado. Sujo, molhado, suado. Meio torto, vesgo, trocando as pernas. Mas nunca volta igual. A corrida transforma. De um cabra garboso, cheiroso, esperançoso, você vira um sujeito cansado, sujo, com fome, com sede, com ódio. De uma moça direita e valorosa, você fica fedida, cabelo desgrenhado, com o coração saltando pela boca. Isso, é claro, se for para fazer direito.

Porque a corrida te enfeia para te enfeitar. Te suja para te limpar. Te irrita para te alegrar. Te leva para o inferno para que você conheça o céu. Se não for assim, não é corrida. É brigadeiro de chocolate belga. Que também é bom, mas não muda sua alma, só seu corpo.

Anne Dias

Jornalista com especialização em economia e com nove meia maratonas no currículo: duas W21, Meia Maratona das Pontes (Brasília), Disney, Corpore, São Paulo, Uberlândia, Porto Alegre e duas Golden 4 Asics. Concluiu também duas maratonas: Nova York e Buenos Aires. E não pretende parar.

Share
Published by
Anne Dias

Recent Posts

MOV

1 hora ago

Eco SP

1 hora ago

7 dicas para voar nos 21 km

Saiba como você pode melhorar (ainda mais) o seu tempo na meia-maratona

3 dias ago

Eco Run São Paulo abordará conscientização ambiental e sustentabilidade

A cidade de São Paulo será palco no dia 10 de julho da Eco Run,…

5 dias ago

Eco Run em Salvador: corrida e conscientização ambiental em pauta

A Eco Run chegou a Salvador no último domingo, dia 3 de julho, com a…

6 dias ago

Up Night Run em Ribeirão Preto tem muita música e diversão; veja as fotos!

A Up Night Run é mais do que uma corrida, é a proposta de uma…

6 dias ago