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Corridas só para mulheres: odeio!

Não é que eu não goste de mulher, nem de prova de corrida na rua. Eu não gosto de prova só para mulheres. Como também odiaria provas só para gente loira. Ou só para quem tem gastrite. Ou uma com inscrição apenas para canhotos. O bom do mundo é ter um pouco de tudo em todos os lugares. Seguindo essa lógica, prova boa tem mulher, homem, gay, judeu, gordelícia, careca, careca com pança, gente com carrinho de bebê, cadeirantes, portadores de síndrome de Down e uns quatro Marcelos Avelares (não mais que isso que é para não humilhar demais quem só corre).

Se eu já fiz prova só para mulheres? Já. Seis vezes, nem me pergunte por quê. Em todas elas:

1. Nós, as minas, falamos. Falamos o tempo todo: antes, durante e depois da prova. Eu mesma falo sem parar. É foco zero na prova.

2. Nós, as minas, tiramos foto durante a prova. Não tenho nada com isso, desde que a fotógrafa vá para o canto direito da pista e lá fique fazendo pose — coisa que raramente acontece.

3. Nós, as minas, somos do bem. Mas, quando damos para ser competitivas, meu Pai eterno! Já tomei muita cotovelada e provavelmente já dei algumas também durante uma prova. Correr só com mulher em prova, muitas vezes, equivale a ter à sua esquerda o Mo Farah, pensando nas contas que não param de chegar, e, à direita, o Ayrton Senna nos tempos áureos de ódio nas veias.

Isso é um breve cenário do que acontece. Deve ter muito mais coisas, mas vamos ficar nesses três pontos. O que eu faço, então, para não levar tudo isso a sério demais:

1. Caço um fio dental. Não sei bem o motivo, mas há minas que usam calcinha fio dental para correr. Vou correndo até achar uma com este modelo. Quando eu acho, me pergunto: Como ela consegue? Num dá vontade de arrancar isso? Sem respostas, sigo e procuro outra bunda.

2. Olho para os cabelos. Tem mina que corre de cabelo solto. Aquilo lá pelo km 7 vira um dreadlock de dar pena. Imagino rabos-de-cavalo incríveis e trancinhas que poderiam ser usadas. Nossa, eu poderia ganhar dinheiro com isso. Xá pra lá.

3. Peitola é um assunto importante também. É mais difícil de observar, mas dá para reparar, principalmente nessas provas com vaivém. O que tem de mina com top errado é impressionante. É peitola grande demais para top pequeno, peitola pequena demais para top grande… Basta usar dois tops, um mais frouxo por cima de outro mais firminho.

4. Nós adoramos uns balangandãs. Colocamos short saia com meião, pochete, corta-vento para o caso de uma ventania repentina, tiara, trança e rabo-de-cavalo. Não tenho nada com isso. Só acho pouco prático acordar às 4h da manhã para a montagem do look.

Neste momento, devo ter amealhado uma centena de inimigas. E, sempre que eu puder, continuarei fazendo provas femininas. No fundo, elas são muito divertidas, as mulheres e as provas só para mulheres. Afinal, o que é uma mulher? — como perguntaria Simone de Beauvoir. Quando eu descobrir, te falo. Até lá, corremos, pois.

 

 

Anne Dias

Jornalista com especialização em economia e com nove meia maratonas no currículo: duas W21, Meia Maratona das Pontes (Brasília), Disney, Corpore, São Paulo, Uberlândia, Porto Alegre e duas Golden 4 Asics. Concluiu também duas maratonas: Nova York e Buenos Aires. E não pretende parar.

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