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Crossfit: risco elevado de contágio

Tudo começa quando um amigo do trabalho começa a praticar crossfit e você passa seus almoços inteiros ouvindo o sujeito falar sem parar um minuto no risco elevado de contágio ou sobre como ele se sente à beira da morte ao final dos treinos e que, de alguma maneira, ele nunca se sentiu tão vivo.

Você nota esse seu amigo mais preocupado com a alimentação, percebe que ele passou a ir trabalhar de bike, começa a furar os happy hours (nos quais ele só comparece, eventualmente, se for na quinta-feira e intercalando cerveja com água) e a usar camisetas com estampa de Kettlebell nos finais de semana – que ele passa integralmente, obviamente, com os amigos “do cross”.

Você tem certeza que aquilo só pode ser alguma espécie de lavagem cerebral – e, então, você odeia o crossfit. Você abre todos os links dos sites de notícia que parecem corroborar com sua opção por continuar detestando “essa modinha” e passa os intervalos das suas séries de musculação compartilhando com seu personal sua indignação com a modalidade.

Aí, de tanto pesquisar para criticar com propriedade, você acaba se familiarizando com alguns termos, e começa a sentir uma pontinha de curiosidade. “Será que eu conseguiria fazer essa tal de Karen e jogar 150 vezes uma bola na parede? Qual será a quantidade de barras que eu aguento fazer direto? Será que eu consigo levantar mais peso que aquele mala crossfiteiro? Por que diabos esses nomes de mulher?”.

 

 

O próximo passo é a decisão de dar uma olhadinha em segredo lá naquele box que você passa sempre na volta do trabalho, com propósito unicamente científico – afinal, você só quer ampliar seu conhecimento sobre “essa papagaiada”.

Marcada a primeira aula, você chega ao box e acha aquilo tudo muito estranho: por que desconhecidos estão falando com você? O que são aquelas siglas e números? Seriam repetições? E você conclui que não, não é possível que sejam repetições (afinal ninguém faria 100 flexões de braço).

Começa o treino e depois de apenas quinze minutos você está cansado – mas pensa que dá conta daquilo, claro, e se sente aliviado. Então você descobre que era só o aquecimento. Quando o treino finalmente termina, você está um exausto, mal consegue respirar, ajoelhado no chão se odiando por ter comido churrasquinho de frango como pré-treino.

Aos pouquinhos o coração vai desacelerando, seu corpo vai relaxando, os desconhecidos vão passando por você e te parabenizando pelo seu resultado. E então você percebe que gosta disso. Que você realmente gosta disso e quer repetir amanhã, e depois, e depois. Você só não sabe ainda que não vai conseguir levantar um copo d’água na próxima semana.

Aí no primeiro mês você treina escondido, não quer dar essa deixa para o seu amigo mala crossfiteiro. Mas aí você consegue levantar um peso realmente pesado, não termina o WOD por último e está louco pra usar a camiseta nova escrito “meu aquecimento é o seu treino!”.

Você decide, então, abrir o jogo. E agora você não para de falar nisso, vai pra balada de nano, passa horas lendo artigos de crossfit e só marca encontro com gente do Tinder que tem foto subindo na corda ou fazendo Overhead Squat.

Você agora cumprimenta os alunos experimentais no final do WOD e se descreve nas redes sociais como praticante de crossfit. E, em alguns meses, você vai se apresentar como “atleta de crossfit” na sua bio do Instagram – mas essa aí é outra história que depois eu conto. 🙂

Valeska Bruzzi

Graduada em Direito pela UFRJ e Mestre em Direito pela PUC-Rio. Atua como procuradora na Universidade de São Paulo e mantém como hobby o instablog @valeskabruzzi, no qual compartilha com seus seguidores sua rotina fitness, sua evolução como praticante de crossfit e suas reflexões sobre o esporte.

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