Como já abordei várias vezes, corredores têm como premissa ir atrás de provas que lhe agradam. Pode ser do outro lado do mundo ou na cidade vizinha. E esse movimento tem se tornado cada vez mais frequente e forte.
O maraturismo, uma corruptela com maratona e turismo, pode se aplicar às demais distâncias, afinal, nenhum corredor é obrigado a ser maratonista como escrevi neste artigo intitulado, “O status de ser corredor“. O conceito do Maraturismo tem como premissa um atleta viajar para correr provas e fazer seu turismo cultural, gastronômico ou social antes e/ou depois da corrida alvo. É o dois e um perfeito.
Em artigo anterior escrevi sobre cuidados ao correr fora do país e se tiver um tempinho leia outras dicas, como itens importantes para levar em uma viagem para correr, a importância de respeitar a cultura local em uma viagem, ou mala de mão e os equipamentos da corrida.
Pois bem, em 25 anos de competição já viajei muito, seja de avião, carro, trem e ônibus, mas apesar de ter boa experiência devo levar em conta uma frase que escutei em um seriado cujo assunto era aeroportos e seus controles alfandegários.
Dizia lá o investigador. “Os ‘malandros’ estão sempre um passo na frente. Estão sempre desenvolvendo novas formas de golpes para se dar bem”.
E não é que me surpreenderam? Deixe-me contar: embarquei em São Paulo de ônibus semi-leito. Um double deck da Viação Penha, em uma quinta-feira, às 21h, e, portanto, bem vazio com destino a Itapema em Santa Catarina. Viagem longa de 11 horas, mas com o wi-fi, sono e a economia que me faria estava perfeito.
Como não há esteira nem conexões igual a viagens de avião, coloquei minha mala com roupas, equipamento completo de trail run e um laptop na mala que foi no bagageiro.
Junto comigo veio a mochila de hidratação e nela carteira, chaves, celular, GoPro e meu implante coclear. Parada lá pela região de Registro, como algo no restaurante, e continuo a viagem. Ainda acesso o celular e o sono bate. Guardo na mochila de hidratação os pertences e durmo, só acordando com algumas trepidações que sinto do asfalto.
Em Itajaí, já de manhã, o motorista em gesto ríspido me acorda. Sabe quando te acordam não tocando em você, mas dando tapinhas? Pois bem, eu estava sem o implante e entendi ele perguntando se eu desceria lá. Respondi: aqui é Itapema? Não, respondeu, e seguimos viagem, agora com o ônibus só comigo e mais dois passageiros.
Desperto e abro a mochila para pegar meu celular quando sinto falta dele e da carteira. Dentro da carteira havia a passagem de ônibus com o tíquete da mala do bagageiro.
Desesperado ainda desci na área das cadeiras leito. Procuro pelo chão e nada. Caiu a ficha. Fui furtado.
Parada em Itapema, destino final, e minha esperança é que o larápio não fosse tão ousado, mas foi. Em uma parada anterior, levou também a mala do bagageiro com meu notebook e inúmeros itens pessoais e de corrida.
Só com a roupa do corpo, a mochila (ainda dentro a GoPro e o implante coclear, ufa! Se esse último fosse levado eu entraria em parafuso) estava eu sem um Real na rodoviária.
Um dos dois passageiros que estavam no ônibus iria correr a mesma prova que eu. Solidário, Jean me deu R$ 40 para que eu fosse até a delegacia fazer o B.O. e chegar ao meu destino final.
Corta tudo. Vamos imaginar. Sentei e guardei minha carteira junto ao meu corpo, em bolsos e/ou pochete. Nada e nenhum prejuízo teria acontecido.
Vivendo e aprendendo da pior maneira.
Para tentar recuperar parte do patrimônio perdido, criei uma vaquinha online.
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