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A resposta para essa pergunta motivou uma mudança muito importante no ciclismo nos últimos anos. Passamos das simples medidas em laboratório, com instrumentos feitos pelos cientistas, como pedais que medem potência, para uma realidade de dados gravados em tempo real e disponíveis para atletas e treinadores usando equipamentos portáteis.
Mesmo os aficionados pelo esporte podem acompanhar em tempo real os dados de potência dos ciclistas, como pudemos notar na época do Giro d’Itália. Ainda assim, seguimos tentando descobrir quanta potência um ciclista precisa para vencer. Qual será a resposta? Será que saber a potência máxima de pedalada é suficiente?
Os ciclistas percebem que durante uma prova de estrada, com o pelotão, a potência produzida está bem abaixo do seu potencial máximo, mas chegarão momentos da prova em que essa potência aumentará abruptamente. Com base no que sabemos até então, consideramos que saber a potência média ou máxima não é suficiente para respondermos a pergunta; precisamos saber também como conseguimos administrar aumentos abruptos na produção de potência em uma prova, e para nos preparar para isso, precisamos saber como os estímulos chegarão, e quando! Existem boas evidências que nos ajudam nessa preparação.
Recentemente (1), dados de potência de mulheres ciclistas profissionais em 49 provas de Copa do Mundo de estrada mostraram que a capacidade de suportar uma alta intensidade (maior que 7,5 W/kg), especialmente em intervalos de esforço com mais de 10 segundos, foi determinante para as atletas terminarem as provas no top 10. Isso é muito importante em provas de vários dias, onde o tempo de chegada em cada etapa determina a classificação geral. A aplicação dessa informação fica evidente ao sabermos que os sprints de chegada de provas femininas nas provas têm duração média de 21 segundos (2).
No MTB XCO, a produção de potência em alta intensidade e curtos intervalos de tempo também é fundamental para o desempenho. Já se sabe que uma capacidade aeróbica é importante para o ciclista, como para qualquer atleta de endurance. Mas além disso, com dados de ciclistas homens competindo no campeonato brasileiro de XCO foi observado (3) que atletas com maior potência máxima e potência média expressa em W/kg e medida em cinco testes seguidos de Wingate (potência máxima em 30 segundos), completaram a prova em menos tempo. E essa característica é observada em atletas com diferentes níveis (competitivos e não competitivos – para saber mais das diferenças entre eles leia outro texto que escrevi aqui no blog (4)). Então, no XCO, essa capacidade de suportar intensidades muito altas de maneira intermitente se mostra fundamental para buscar um bom resultado na prova.
No ciclismo de estrada masculino, os atletas podem experimentar algo como 70, 40 e 20 sprints de alta intensidade durante provas de criterium, montanhas e plano, respectivamente, ao passo que a potência média na prova apresentará intensidade apenas moderada (5). Distribuídos ao longo da prova, esses sprints têm duração de 6 a 10 segundos, aumentando muito em termos de quantidade nos últimos 10 minutos de prova (6) quando vários ataques acontecem. O número de sprints nos últimos 5 minutos pode ser o dobro do observado nos penúltimos 5 minutos da chegada. Novamente, essa capacidade de suportar um estímulo de alta intensidade em um curto intervalo de tempo, repetidamente, é determinante para o resultado.
Um(a) ciclista pode até não se preocupar com a potencia média gerada durante uma prova, mas é fundamental que ele esteja pronto para responder bem a estímulos de alta intensidade, com durações de 6 a 20 segundos, e que se tornam mais repetidos perto do final da competição. Essa capacidade anaeróbica não pode ser deixada de lado nos treinos, para que não seja um limitante do seu rendimento na hora da competição. Então, naquele dia de treino de pelotão com vários ataques, aproveite para trabalhar essa parte.
Referências:
(1) Menaspà P, Sias M, Bates G, La Torre A. Demands of World Cup Competitions in Elite Women’s Road Cycling. Int J Sports Physiol Perform. 2017; 1;12(10):1293-1296.
(2) Peiffer JJ, Abbiss CR, Haakonssen EC, Menaspà P. Sprinting for the Win; Distribution of Power Output in Women’s Professional Cycling. Int J Sports Physiol Perform. 2018; 24:1-18.
(3) Inoue A, Sá Filho AS, Mello FC, Santos TM. Relationship between anaerobic cycling tests and mountain bike cross-country performance. J Strength Cond Res. 2012;26(6):1589-93.
(4) Novak AR, Bennett KJM, Pluss MA, Fransen J, Watsford ML, Dascombe BJ. Power profiles of competitive and non-competitive mountain bikers. J Strength Cond Res. 2017; 30.
(5) Ebert TR, Martin DT, Stephens B, Withers RT. Power output during a professional men’s road-cycling tour. Int J Sports Physiol Perform. 2006;1(4):324-35.
(6) Menaspà P, Quod M, Martin DT, Peiffer JJ, Abbiss CR. Physical Demands of Sprinting in Professional Road Cycling. Int J Sports Med. 2015;36(13):1058-62.
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