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Para os amantes do ciclismo, o Tour de France é uma competição de destaque. O evento ciclístico mais assistido no mundo provoca sensações diversas nos espectadores, sendo considerada a principal prova do ano por alguns, enquanto outros preferem o Giro d’Itália, a Vuelta a España, ou até mesmo o calendário de clássicas.
Para os atletas, o Tour de France é uma prova desafiadora, o momento em que o treinamento físico, a capacidade mental e a força das equipes são testadas ao limite. Com tanta gente assistindo ao redor do mundo, um bom desempenho no Tour também pode significar muito em termos de carreira para muitos atletas. E isso tudo fica mais difícil a cada ano.
Para começar, vamos falar da evolução desses atletas até chegar a um Tour de France. Monitorando potência produzida, carga de treino e percepção de esforço de dois ciclistas top-10 da equipe FDJ (Team Française des Jeux) em 2208 sessões de treino durante 6 anos (dos 18 aos 23 anos de idade), ao longo de seis temporadas, Pinot e Grappe* mostraram que a carga de treino aumentou 79% e 83% para cada atleta, sendo o maior aumento aos 20 anos, quando se tornaram profissionais.
As temporadas tinham 12 semanas preparatórias (de base, em que o treino tinha intensidade baixa a moderada, treinamento de força e preparação física em geral), um período competitivo com 3 macrociclos ajustados ao calendário (apenas com ciclismo, objetivando picos de desempenho com competições que também serviam como treino, polimentos antes e entre as provas, e períodos de 1 a 2 semanas de recuperação), e 4 a 6 semanas de descanso. As melhoras tiveram correlação positiva com o tempo de treinamento na semana. Então aqui um primeiro recado: não tem milagre, tem que treinar.
Todo esse treinamento tem um efeito claro. As provas estão cada vez mais rápidas. Helou e colaboradores* mostraram que a velocidade média nas grandes voltas subiu de 23,13 km/h em 1892 para 41,19 km/h em 2008. Se olharmos os dados entre 1993 e 2013, o aumento na velocidade foi de 6,83%. A velocidade impressiona, mas quem pratica ciclismo sabe que ela é importante, mas não é tudo. Estar rápido nem sempre significa estar fazendo muito esforço no ciclismo, especialmente em provas de pelotão.
Vogt e colaboradores* monitoraram dados de potência e frequência cardíaca (FC) durante uma volta. As medidas foram feitas em 6 ciclistas. Eles observaram que a potência média foi de 220 Watts (W) e a FC média foi de 142 batimentos por minuto (bpm). Em contrarrelógio de subida, a potência foi de 392 W e a FC foi 169 bpm.
Os tempos nas zonas calculadas com base na potência e na FC foram 58% versus 38% na zona 1, 14% versus 38% na zona 2 e 28% versus 24% na zona 3, sendo a maior parte da competição com intensidade próxima do limiar anaeróbico.
É importante notar que a FC subestimou o tempo nas zonas 1 e 3 e superestimou o tempo na zona 2. O fato da maior parte de uma etapa de volta ter intensidade próxima do limiar anaeróbico, mas não acima dele, passa uma ideia de que não seria difícil. Mas isso não é verdade.
Durante a etapa, a equipe precisa trabalhar para auxiliar o ciclista principal da equipe, ou o ciclista que vai lutar pela vitória na etapa ou por uma posição na classificação geral. Muitas vezes a equipe vai trabalhar durante toda a etapa para permitir que o sprinter chegue em condições de vitória. Várias etapas de uma volta acabarão com um sprint.
Menaspà e colaboradores* acompanharam o desempenho de um sprinter do Pro Tour. Eles avaliaram 52 sprints disputados entre 2008 a 2011. Destes, o atleta acompanhado venceu 30 (58%), perdeu 15 (29%), abandonou em 6 (12%) e teve uma queda. Nos sprints que ele ganhou, sempre havia mais companheiros da equipe próximos dele (de 15 a 60 segundos). Nos sprints em que ele perdeu, a altimetria da etapa era maior, o que provavelmente exigiu do sprinter muito mais esforço antes da chegada. A duração do sprint em que ele ganhou ou perdeu não diferiu (11s3 e 10s4).
Ter mais membros da equipe chegando junto com o sprinter no quilômetro final é um dos principais desafios em etapas com menor altimetria. Quantos de nós já vimos sprinter favoritos chegando sozinhos nos quilômetros finais e comentamos sobre a falta de equipe? Mas ter a equipe junto do sprinter até o quilômetro final envolve uma série de outros fatores. Vou comentar apenas um. Reposição de energia durante a etapa.
Para termos uma ideia, Ebert e colaboradoreses* relataram que homens e mulheres perdem cerca de 2,7% da massa corporal por estágio de uma volta de vários dias, e durante as etapas, em média, homens repõem 1 litro de líquido e 48 g de carboidratos por hora. Tudo isso ainda pode ser pouco para que o atleta consiga manter os níveis de energia e hidratação necessários para combater a fadiga que se instala em seu corpo.
O Tour de France começou e muitas dessas relações feitas em estudos científicos serão postas à prova. Iremos acompanhar e torcer, sabendo que o desempenho na volta depende do que o atleta fez nos meses anteriores e como sua equipe vai lidar com os desafios durante as etapas, incluindo estratégia durante as etapas, recuperação entre as etapas e, principalmente, a capacidade de superação física e mental dos atletas.
Referências
– Pinot J, Grappe F. A six-year monitoring case study of a top-10 cycling Grand Tour finisher. J Sports Sci. 2015;33(9):907-14
– El Helou N, Berthelot G, Thibault V, Tafflet M, Nassif H, Campion F, Hermine O, Toussaint JF. Tour de France, Giro, Vuelta, and classic European races show a unique progression of road cycling speed in the last 20 years. J Sports Sci. 2010 May;28(7):789-96
– Menaspà P, Abbiss CR, Martin DT. Performance analysis of a world-class sprinter during cycling grand tours. Int J Sports Physiol Perform. 2013 May;8(3):336-40
– Vogt S, Heinrich L, Schumacher YO, Blum A, Roecker K, Dickhuth HH, Schmid A. Power output during stage racing in professional road cycling. Med Sci Sports Exerc. 2006 Jan;38(1):147-51.
– Ebert TR, Martin DT, Stephens B, McDonald W, Withers RT. Fluid and food intake during professional men’s and women’s road-cycling tours. Int J Sports Physiol Perform. 2007 Mar;2(1):58-71
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