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Um grande amigo corredor, o brilhante publicitário Ricardo Chester, foi o responsável por criar a hashtag #dietadosinfernos. Ele a usa nas redes sociais sempre que se vê obrigado a comer aqueles pratos com aparência de alfafa ou alpiste para manter-se em forma para maratonas. Chester, que sempre foi grandalhão, era, antes de começar a correr, um cara que se destacava mais pelas bochechas do que pela forma física. Uma vez convertido em corredor, perdeu peso e passou a quebrar marcas pessoais uma atrás da outra. Sua dedicação é semelhante à de um atleta da elite. E, dessa forma, se destaca entre os não atletas, ficando entre aquele 1% das pessoas mais fitness do planeta ou que seguem uma dieta do corredor.
Chester fala de seus treinos longos de 30 km como se fossem passeios num ensolarado jardim inglês, elogia as ladeiras agoniantes como se fossem o caminho da felicidade, confunde fartlek com piquenique, recebe o sol de 38°C da maratona do Rio como se fosse uma brisa de outono em Gramado, compartilha cada treinamento que faz, cada prova que completa, cada medalha que ganha. Uma coisa, apenas uma coisa tira o entusiasmado Chester do sério: a dieta dos infernos.
Não sei se uma dieta pode, por pior que seja, superar um maldito treino de ladeiras. Mas mesmo assim é insuportável, ainda mais para os corredores. Eu digo que corro por várias razões lógicas, mas a principal está longe de ser lógica. Não espalhem por aí, mas eu corro para poder tomar Coca-Cola, comer pão e curtir uma goiabada com queijo.
Quando acabo um treino, eu não penso: “Vou viver mais dez anos”. O que penso mesmo é: “Hoje vou comer uma cesta de pão com azeite”. Eu corro para comer. Confesso. Podem me julgar, mas a verdade é essa. E, sendo essa a verdade, qual o sentido de correr e ainda por cima ter que fazer dieta? Chester e eu discordamos sobre as ladeiras e até sobre o meu Fluminense e o Vasco que ele adora. Mas, sobre dieta, estamos juntos, mano! Elas são uma das principais manifestações dos ardis de Satã na terra.
Para quem — como eu e Chester — está na faixa dos 50, a dieta é ainda mais demoníaca. A molecada de hoje já nasce gostando de comida light, enquanto a nossa foi criada no mingau de farinha láctea com açúcar, na geleia de mocotó, na bala Juquinha, no feijão com macarrão e salsicha. As verduras entraram no cardápio deles ainda na mamadeira, enquanto eu só fui ver uma chicória um bom tempo depois de ter visto uma mulher pelada pela primeira vez. A realidade dos que têm menos de 30 anos é distinta: já nasceram para comer pouca gordura e açúcar. Para eles, fazer dieta é mais fácil. Quem nunca se entupiu com balas Soft e pirulito Zorro pode viver perfeitamente à base de folhas e peixe cru. Chester e eu não conseguimos. E por isso achamos que toda dieta, sem exceção, é uma #dietadosinfernos!
(Coluna publicada na Revista O2 – edição #147 – agosto de 2015)
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