Muito comumente atendo pessoas que demoram a procurar ajuda médica com medo de ouvir aquele “Você não poderá participar dessa prova!”. Às vezes a dor vem um mês antes do grande dia e alguns tendem a achar que “vencerão a dor no cansaço”, mantendo a rotina de treinos. No entanto, isso é uma bomba relógio, que tende a explodir nas semanas anteriores à prova – ou no meio dela quando não resolvida.
Não é à toa que essas lesões surgem no mês que antecede os 21 km ou 42 km que vêm pela frente. Mesmo quando uma boa periodização dos treinos é feita, o aumento de volume e intensidade gera maior solicitação nos tendões, ossos e articulações, podendo culminar em lesão por sobrecarga repetitiva, bastante comum na corrida. Acontece que treino de corrida não é receita de bolo, e muitas vezes devemos mudar o rumo de nossos treinos para que possamos cruzar a linha de chegada.
Para isso é preciso um diagnóstico rápido e correto, além de uma integração coesa entre o treinador, o fisioterapeuta, o ortopedista e o paciente. Esse é o conceito de transdisciplinaridade. Essa palavra difícil pode resolver muitos dos problemas da corrida.
Como exemplo podemos citar uma pessoa que, a partir dos 10 km de treino, começa a sentir um desconforto no joelho. Ela deve procurar o ortopedista de imediato para afastar as causas mais graves, como as fraturas por estresse ou lesão do menisco. No entanto, na maioria das vezes o desconforto vem de causas mais simples, como tendinites ou lesões por sobrecarga. Nesse momento uma opção é a associação da fisioterapia e medicamentos, com a alteração da estratégia pelo treinador, como redução de volume e retirada temporária dos treinos de tiro e de ladeiras.
Para lesões que precisam de um descanso da corrida, é possível substituir temporariamente por natação, transport ou bicicleta, para que não haja grande perda do condicionamento cardiorespiratório e muscular.
Em muitos casos, a associação da fisioterapia permite que os fatores de risco do próprio paciente, como encurtamentos ou desequilíbrios musculares, sejam corrigidos enquanto os treinos de corrida são reduzidos, e não interrompidos. Claro que se a dor é muito intensa o treino deve parar, porém quando a busca pelo diagnóstico e tratamento se dá logo no início dos sintomas, fica muito mais fácil sua resolução.
Não negligencie seus sintomas! Na presença de dores, busque por profissionais experientes no assunto e que tenham um bom relacionamento com seu treinador e fisioterapeuta, para que um trabalho integrado possa ser realizado, otimizando seu tratamento e contribuindo para que você cruze a linha de chegada como sonhado.
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