Depois de um certo tempo treinando e competindo constantemente, é natural que o triatleta já tenha corrido, se não todas, quase todas as distâncias de provas. Desde o short triathlon até a menina dos olhos da maioria, o Ironman, o triatleta vai querendo cada vez mais se superar e completar um desafio maior.
Ganhando experiência com o passar dos anos e se tornando cada vez mais competitivo, também é normal que o atleta “pegue gosto” por uma certa prova e tente se destacar e se sobressair frente os seus adversários. Quando isso acontece e os resultados positivos aparecem, temos a certeza de que aquele atleta fez a escolha certa, ele está no “lugar” certo.
Mas esse não é o ponto crítico da nossa reflexão. A grande questão a ser tratada aqui é quando o treinador percebe que tem um material humano muito bom nas mãos; esse triatleta tem potencial, tem qualidade, tem tudo para ser competitivo e bem ranqueado; mas por algum motivo não consegue dar “aquele salto” que lhe permite ir além, ou abaixar aqueles poucos minutos que o separam do pódio e da vitória.
Aí vem a pergunta: será que estamos sabendo escolher a prova certa para esse atleta? Nós, pois isso é um assunto específico e estratégico que deve ser estudado, discutido e decidido entre o atleta e o treinador (e equipe multidisciplinar, se for o caso). E para que essa questão seja solucionada e a melhor decisão seja tomada, devemos considerar diferentes aspectos do triathlon e do atleta em si. Vejamos.
Pense no desempenho do seu atleta em cada modalidade (natação, ciclismo e corrida) de forma isolada, observando e analisando sua evolução ao longo dos últimos anos. Se ele é um bom nadador, um excelente corredor, mas tem um ciclismo regular (ou abaixo dos seus adversários diretos), talvez fosse interessante esse triatleta se dedicar às provas das distâncias short e olímpica com vácuo liberado.
Isso porque nadando bem, ele saíra da água junto dos primeiros atletas, irá pedalar no meio do pelotão, e poderá finalizar a prova com a sua corrida forte, aumentando muito as chances de um bom resultado.
Se esse mesmo atleta escolher provas que não permitem o vácuo, ao acabar a natação ele fará muito esforço para não perder contato com seus adversários e algumas vezes será ultrapassado, já que o ciclismo é seu ponto fraco. Na hora da etapa final, estará muito desgastado para desempenhar uma boa corrida que o coloque mais perto do pódio.
E se o atleta tiver a natação como pior modalidade, uma boa corrida e um ciclismo muito forte? Nesse caso, ao contrário do exemplo anterior, esse atleta tem tudo para se beneficiar das provas sem vácuo liberado e nas distâncias olímpica e, talvez, um pouco mais longas, como Ironman 70.3.
Por motivos óbvios, mesmo saindo atrás na água, ele terá tempo para desempenhar sua melhor modalidade – o ciclismo –, se aproximar dos adversários da frente, buscar uma melhor posição na prova, e sair para correr mais “inteiro”. Parece que foi uma boa escolha nesse caso. Mas considerar só isso não é o bastante.
Outro aspecto importante é o perfil fisiológico e antropométrico do triatleta. Existem diversos estudos na literatura científica que detectaram que triatletas de provas de longa distância possuem melhores valores para a variável “economia de corrida”, um índice fisiológico que descreve o consumo de oxigênio para esforços em intensidades sub-máximas (abaixo do VO2max).
Quanto menor o valor da economia de corrida, mais “econômico” é o atleta, o que sugere um melhor desempenho aeróbio. Outras evidências cientificas que podem auxiliar nesse processo de como escolher a prova certa estão relacionadas às características antropométricas. Pesquisadores verificaram que ciclistas de provas de “contrarrelógio” (sem vácuo permitido) possuem membros inferiores mais longos do que os ciclistas de estrada (com vácuo permitido).
Toda essa informação pode, de certa forma, ajudar atletas, treinadores e equipes multidisciplinares a decidirem qual a melhor prova para um determinado triatleta. Porém, essas avaliações não são simples de serem realizadas e nem de fácil acesso. Nesse caso, um bom médico do esporte ou fisiologista, ou até mesmo pesquisadores do esporte nas universidades, podem viabilizá-las.
Temos ainda alguns traços de personalidade e algumas características psicológicas que podem nos dar pistas na hora de encontrarmos “aquela” prova em que o atleta poderá se destacar mais.
Quando, por exemplo, o triatleta não tem paciência para realizar treinos muito longos, mas demonstra uma grande motivação e um prazer imenso em treinar pouco volume e em alta intensidade. Por que forçá-lo a competir em provas longas? Extraia dele o seu melhor para que toda essa energia seja aplicada em provas curtas, como triathlon o short e o olímpico.
Mas também podemos nos deparar com aquele triatleta que compete muito bem em várias distâncias, mas é nas provas longas que ele mais se aproxima do pódio. Ele demonstra ter muita paciência, sabe “negociar” e decidir frente os altos e baixos durante a competição. É muito persistente e tem grande poder de recuperação frente às dificuldades. Nesse caso, aposte em especializá-lo nas distâncias Ironman e Ironman 70.3.
Nessa linha de análise em que se confronta “atleta X prova X desempenho”, existem várias outras abordagens e aspectos a serem considerados, além dos já citados aqui no texto. Isso é o que torna essa tarefa de escolher a prova certa tão complexa e nem um pouco óbvia.
Portanto, conhecer bem o seu atleta, caminhar ao seu lado por alguns anos, e manter-se atualizado acerca da ciência do esporte e da aplicação dos meios e métodos de treinamento são condutas imprescindíveis para treinadores e coaches conseguirem direcionar esse atleta para a prova na qual ele terá mais chances de obter os melhores resultados. E mesmo assim nem sempre o êxito será imediato ou garantido.
E agora? Será que ficou mais fácil escolher a prova certa para seu atleta?
Bons treinos e até a próxima!
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