Quando comecei a treinar, imaginava que esse negócio de calendário de provas de corrida e treinamentos era coisa de atleta profissional, ou, no mínimo, daqueles sub-3h, corredores que hoje podem até ser chamados de amadores, mas que 30 ou 40 anos atrás estariam disputando medalhas olímpicas. “Para que calendário?” — pensava eu. “Quando der na telha de fazer uma prova, eu vou lá, me inscrevo e pronto.” Estava redondamente enganado.
Acreditar que um calendário de provas de corrida é algo só útil para os grandes é o mesmo que imaginar que aprender a passar as marchas num carro e usar seus pedais só beneficiaria os pilotos profissionais. Da mesma maneira que escolher um bom tênis, desenvolver a biomecânica da corrida, fazer alongamentos e exames periódicos, um calendário de treinamentos faz parte do kit básico para todas as pessoas que desejam correr sem correr riscos. Se definirmos com antecedência quais provas desejamos completar no ano, o técnico poderá montar uma planilha procurando fazer o ápice da nossa preparação coincidir com as provas de corrida. Esse é o conceito de temporada, que pode e deve existir para os corredores amadores.
Antes do surgimento da noção de temporada, os atletas treinavam quase todas as semanas da mesma forma. Por exemplo: um atleta de maratona fazia treinos de meia distância duas ou três vezes por semana, de velocidade uma ou duas vezes por semana e um longão uma vez por semana. E repetia isso em todas as semanas do ano, perto ou longe das provas mais importantes. Com a evolução das técnicas de treinamento, as atividades passaram a ser dosadas. Crescentes no início da temporada, menos intensas na semana da prova, bem leves após uma prova dura e assim por diante. Esse conceito, que levou algumas décadas até contagiar os programas de treinamento de todos os esportes, demorou muito mais tempo para chegar a nós.
Mas chegou. E o que é mais interessante: também nós, amadores, temos hoje um calendário de provas de corrida tão charmoso quanto o que antes era exclusividade dos profissionais. Podemos nos inscrever em caminhadas, provas de 5 km, 6 km, 8 km, 10 km, 15 km, meias-maratonas, maratonas e até ultramaratonas. Quase todas essas provas coincidem com as do calendário dos profissionais. Ou seja: toda a organização e a estrutura à disposição dos superatletas também nos beneficiam. Temos chips, postos de abastecimento de água, serviço médico, medalha…
Assim, resta-nos aproveitar tudo isso. E a melhor maneira de aproveitar é montando o calendário.
(Coluna publicada na Revista O2 – edição #110 – junho de 2012)
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