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Recentemente tenho notado um aumento considerável de desconforto e em casos de lesão na panturrilha dos corredores em relação a outros problemas, como joelho e quadril. Conversando com alguns atletas, reparei que uma das principais causas não é o volume ou intensidade de treinos, mudanças de calçados ou de terrenos, mas sim das informações que circulam entre eles.
Cada vez mais se tem falado sobre o “jeito certo de pisar”, que “deve ser com o meio do pé”, que “não devemos usar o calcanhar”, entre outras “regras”. Mas na média, parece que usar a região posterior do pé é condenável e por isso algumas pessoas estão fugindo do calcanhar de um jeito ineficiente, sobrecarregando demais as panturrilhas.
As pessoas assistem a vídeos de atletas de elite ou amadores que correm bem e tentam imitá-los observando apenas alguns segmentos isolados do corpo, sem enxergar o todo — e é aí que a coisa começa a complicar. O tipo físico, tempo de treino, estrutura das articulações (mais mobilidade em algumas regiões específicas), velocidade, entre diversas outras diferenças já dificultam as chances de alguém querer fazer igual e obter o mesmo rendimento.
Para usar menos o calcanhar, não basta correr pensando em fugir dele. Se fizer isso, pode ser que corra saltitando, reduza demais o tamanho dos passos, dobre menos os joelhos, curve mais a coluna para trás ou na sorte, pode ser que melhore sua eficiência. Digo na sorte, pois o jeito mais aconselhado é pensar em tudo, menos no pé.
O movimento de apoio dos pés é reflexo de como você usa seu tronco, bacia, quadril, coxa, joelho e por último, seu pé. Ou seja, se você tem uma boa estabilidade nestas estruturas, basta um comando verbal direcionado (geralmente orientando algum movimento ou força no quadril, tronco e/ou joelhos) para que sua passada se torne mais eficiente, apoiando gradativamente menos na região posterior do pé, até que os músculos se adaptem ao novo padrão, que sim, exigem forças diferentes, mas de forma protegida.
Ainda assim, mesmo com tudo em ordem, a velocidade é um fator que interfere bastante na maneira como seu pé apoia no chão. Velocidades mais lentas dificultam bastante uma mecânica mais eficiente, exigindo mais de músculos que te impulsionam para cima (principalmente panturrilhas e anteriores da coxa), gerando mais impactos no pé, obrigando-o a ser usado como um todo. Por outro lado, corridas mais rápidas favorecem mais o uso de músculos que te impulsionam para frente (principalmente os glúteos), reduzindo os impactos nos pés (e consequentemente no corpo todo), exigindo menos deles.
Experiências fazem parte de todo corredor, mas algumas não são muito agradáveis. Portanto, o ideal é que se for mudar sua forma de correr, pesquise o todo e não apenas partes isoladas do corpo. Se for imitar alguém, procure alguém fisicamente parecido. Mas antes de tudo isso, fale com seu treinador, ou alguém que te oriente de maneira mais segura.
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