Logo na minha segunda coluna para a O2, eu escrevi sobre as dez coisas que eu mais odeio na corrida. O texto fez sucesso, embora alguns tenham cobrado outra coluna, com as dez coisas que mais amo na corrida. Como eu não sou bobo nem nada, algumas edições depois eu publiquei o tal texto com as coisas que amo no nosso esporte. Colunista que se preze não desagrada os leitores. Só um pouquinho, em ocasiões especiais, para apimentar a relação, como dizem os safadinhos de plantão. No entanto, eu preciso confessar que o segundo texto não chegou aos pés do primeiro e nem teve um centésimo da graça, o que nos leva à reflexão sobre o fato de ser muito mais divertido reclamar de uma coisa do que elogiá-la. Mas isso já é assunto para outra coluna – ou outra revista. O fato é que hoje, passados alguns anos daquele texto, percebo que já odeio novas coisas na corrida. E é delas que eu gostaria de falar.
Pra começar essa segunda rodada, não podia deixar de registar uma das coisas que estraga o dia de qualquer corredor: o horário – ou a inexistência de horário – de abertura e fechamento dos portões dos parques públicos. O do Ibirapuera, por exemplo, é uma vergonha. Tenho o privilégio de morar a exatos 352 metros do Portão 8 do parque. Ocorre que, por alguma razão insondável, o Portão 8 fecha em algum horário randômico entre 20h e 22h, a depender do humor do segurança. O Portão 7, um pouco mais adiante, fecha em horários ainda mais irregulares. Resultado: às vezes termino um treino mais tarde e consigo sair pelo portão ao lado de casa, enquanto outras vezes, quando acabo bem mais cedo, dou com a cara na porta e tenho que sair pelo Portão 6, o que me obriga a, depois de um treino longo, ter que andar por quatro bairros: Quarto Centenário, Moema, Vila Nova Conceição e, finalmente, o meu, a Vila Paulista. Portões de parque devem fechar todos no mesmo horário, quando o parque fecha. É ou não é para odiar?
Este é curto e grosso. Ou curto e caro. Odeio tênis de mil reais! Não faz nenhum sentido um equipamento tão simples custar tanto. Nem se ele me fizesse correr 10 km abaixo de 40 minutos.
No outro texto eu impliquei com os ciclistas. Quase me caçaram sobre duas rodas. Mas eu preciso confessar que a maioria deles, embora nos atrapalhem pra caramba, treinam sério. Já os roller skaters, que Deus me perdoe, estão quase sempre a passeio, acham que são superiores porque andam mais rápido do que nós (dã!…) e atrapalham ainda mais!
Eu também odeio gente que nos julga por um momento do treino, embora não suspeitem de qual estágio estamos. Quantas vezes, ao final de um treino longo e lento para soltar a musculatura, sou ultrapassado por um beócio que está dando dois tirinhos e noto o olhar de superioridade do pulha. Em dias de fúria, já abandonei a rodagem pelo instinto assassino de acelerar e passar voando por um cara desses. Para tripudiar, ainda grito: “Atenção aêee, o mais lento pela pista da direita!…”.
Para finalizar, faço uma menção desonrosa para os corredores que invadem as ciclovias para dar seus trotes. Trotes não é uma palavra casual. Quem faz uma imbecilidade dessas pode ser chamado de quadrúpede. Existem milhões de lugares para correr, contra uns poucos para o ciclismo. É muita falta de vergonha, além de risco de vida, invadir uma pista de ciclismo. (Viram só? Até que não odeio tanto os ciclistas – ainda mais vivendo em uma cidade como São Paulo, que precisa desesperadamente desse meio de transporte).
Paro por aqui por pura falta de espaço. Só espero que não me cobrem outro, com mais coisas que amo na corrida. Já um sobre novas coisas que odeio, quem sabe, né?
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