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Medalha eterna

Diamantes são eternos e raros na natureza, o que os faz caros. Medalhas não duram pra sempre. Leio em um jornal qualquer que até mesmo medalhas olímpicas, algumas das distribuídas nos Jogos do Rio, estão a descascar. Medalhas podem, contudo, ser raras.

Eu tenho uma. Em 2010, houve, na véspera da Maratona de Nova Iorque, uma prova de 8k, organizada pelo New York Road Runners Club, que, sabe-se lá porque, jamais se repetiu. Eu poderia, quem sabe, vendê-la; afinal, medalhas ganhas em corridas estão à venda em sites vários.

Segundo Michael J. Sandel, autor da obra O que o dinheiro não compra, “hoje, quase tudo está à venda. Alguns exemplos. Direito a abater um rinoceronte negro ameaçado de extinção: US$ 150,000 – a África do Sul passou a autorizar fazendeiros a vender a caçadores o direito de matar uma quantidade limitada de rinocerontes; o direito de lançar uma tonelada métrica de gás carbônico na atmosfera: US$ 18. A União Europeia mantém um mercado de emissões de gás carbônico que permite às empresas comprar e vender o direito de poluir; upgrade na cela carcerária: US$ 82 por noite – em Santa Ana, na Califórnia, e algumas outras cidades, os infratores não violentos podem pagar por acomodações melhores”.

 

 

Existem, todavia, coisas que o dinheiro jamais poderá comprar. “Veja-se, por exemplo, a amizade”, escreve Michael J. Sandel. “Ou, então”, segue Michael, “o prêmio de Most Valuable Player (MVP) da Liga de Beisebol Americana. Alguém poderia comprar o troféu se um antigo vencedor se dispusesse a vendê-lo e, assim, passar a ostentá-lo na sala de estar. Mas o reconhecimento embutido na premiação não pode ser comprado. (…)

Naturalmente, há uma diferença entre um troféu que simboliza um prêmio e o prêmio propriamente dito. Sabe-se que alguns vencedores dos Prêmios da Academia de Hollywood venderam suas estatuetas do Oscar ou as deixaram para herdeiros que as negociaram. Algumas dessas estatuetas foram leiloadas. Em 1999, Michael Jackson pagou US$ 1,54 milhão pelo Oscar de melhor filme concedido a E o vento levou.

A instituição que concede os Oscars opõe-se a essas vendas e atualmente exige que os premiados assinem um compromisso de não vendê-los, pretendendo, assim, evitar a transformação das mitológicas estatuetas em itens de coleção comercializáveis. Mas consigam ou não os colecionadores comprar os troféus, é evidente que comprar um prêmio da Academia pelo melhor desempenho como atriz não é a mesma coisa que ganhá-lo”.

A minha medalha ganha em 2010 em Nova Iorque, dinheiro algum jamais poderá comprá-la. Que a minha medalha seja eterna enquanto dure.

Maurício Lopes

Mauricio Lopes é advogado, editor (fundador da Editora Leblon, que publicou, no Brasil, a obra 50 Maratonas em 50 Dias, de Dean Karnazes), leitor e colecionador de livros sobre maratonas. É, acima de tudo, maratonista.

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