A melhor parte da jornada

Atualizado em 28 de julho de 2017
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Tudo começou sutilmente. Um registro de pace aqui, uma continha acolá e, quando menos percebi, lá estava eu, alucinada, em busca de metas cada vez mais impossíveis.

E quanto mais calculava, mais me empolgava. A simples sensação de controle daqueles números me protegia, afinal, eles não mentem, certo? Bastava seguir a planilha à risca e sair para a glória.

O problema é que esse esquema começou a criar em mim uma relação passiva-agressiva perturbadora. Bastava a tal meta mágica não ser alcançada que a frustração batia forte. Em seguida, o desespero, a culpa.

 

 

Essa dependência se tornou um looping nos meus treinos até o ponto de perder o tesão pela corrida. Comecei a sentir raiva dos aplicativos de monitoramento e de mim, pela incapacidade de avançar. O que eu estava fazendo de errado?

Foi com surpresa e alívio que descobri não estar sozinha nessa. Ao que tudo indica, a neura era generalizada. A corrida exige disciplina e empenho, mas não podemos permitir que essa exigência nos deixe paranoicos. Por que, senão, que sentido faz tanto número, tanta planilha, se acabamos correndo da corrida?

Em recuperação já há algumas semanas, agora estou na missão de valorizar cada passo. Tratar minhas conquistas com mais respeito e meu corpo com mais gentileza. É claro que a gente quer mais. Só que nesse processo, não dá para cair na cegueira seletiva de ignorar o quanto evoluímos.

Que tal sermos mais generosos com nossa história? Saber dar tempo ao tempo e saborear cada conquista? Tudo bem demorar um pouco mais para chegar lá, afinal, o caminho ainda é a melhor parte da jornada.