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Empatia tem como definição a capacidade de se colocar no lugar do outro, inclusive sentindo suas emoções. Pesquisas feitas com amantes do esporte demonstraram que o efeito no sistema límbico — onde nasce a empatia no esporte — de quem torce por um atleta é igual ao do sujeito que pratica a modalidade competitiva. Por isso vemos tanta gente tendo prazer ou sofrendo diante da televisão ou dentro de estádios.
Quando estamos torcendo para alguém que amamos, tudo é elevado à décima potência. Junto com a emoção do momento, temos também uma conexão mais forte, levando o corpo e a mente à exaustão, ao prazer ou à frustração. Provas realizadas ao ar livre dão a possibilidade de uma interação ainda maior entre atleta e torcedor. Basta pensar na imagem dos amantes do ciclismo enlouquecidos correndo ao lado dos atletas que escalam os íngremes Alpes das Grandes Voltas.
No final de junho deste ano, durante sete dias, participei de uma prova em que a empatia no esporte transcende a projeção. Fui staff da Race Across America, competição que consiste no desafio de atravessar os EUA de oeste a leste pedalando só ou em equipes de dois, quatro ou oito participantes. Como a prova é non stop, é imprescindível uma competente e harmônica equipe de staffs, que vai desde um cozinheiro para o motor home que segue os atletas, passando por um mecânico, motoristas e navegadores que podem literalmente pôr tudo a perder caso levem os atletas para o caminho errado.
Além dos quatro ciclistas, éramos 13 staffs, trabalhando sob o comando do experiente Mário Sanchez, que já esteve junto a equipes brasileiras por sete vezes na RAAM. O turno de trabalho de cada um foi de 12 horas navegando ou dirigindo, por seis horas tentando dormir onde fosse possível. Banho e banheiro só na estrada, e somente quando a logística do entra e sai de carros permitia. Muita atenção na comunicação via rádio e cabeça fria para não se incomodar com nenhum dos colegas de trabalho, antes desconhecidos, mas rapidamente íntimos depois de sete dias entre montanhas, campos, desertos e pequenas cidades americanas.
Além de torcer por cada atleta, o staff ainda auxilia e participa de tudo na prova que não envolve girar as pernas sob o selim. O que move cada um dos que doaram seu tempo na empreitada de auxiliar atletas amadores na realização de um sonho é o simples e imenso amor pelo esporte.
Tempos atrás escutei o Lama Padma Samten falar sobre as relações humanas e a economia. Nossa normose social faz parecer que toda doação de tempo ou intelecto se dá mediante pagamento monetário. Na verdade, as mais importantes doações de tempo e atenção durante a vida geralmente se dão em relações familiares. Ou você já viu algum pai ou mãe apresentar uma longa conta de serviço pela criação de um filho?
Sem amor não há empatia no esporte. E, distorcendo a frase de Jorge Ben, “empatia é quase amor”. Que venham outras RAAMs, outros eventos em que staffs trabalhem por amor ao esporte, pois é isso que sempre move o verdadeiro esportista.
(Reportagem publicada na revista VO2, edição #110 de Julho/Agosto de 2015)
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