Os variados tipos de corredores

Atualizado em 28 de julho de 2017
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O que passa pela cabeça das pessoas enquanto elas correm? Já fiz essa pergunta a muitos corredores e a resposta parece ser mais complexa do que o esperado. O que passa pela minha cabeça quando eu corro, eu digo já: um milhão de coisas. Sou daqueles sujeitos hiperativos mentalmente, que não consegue ficar sem pensar em assuntos paralelos mesmo quando submetido a experiências muito exigentes, como um filme, uma peça, uma música ou um bom papo-cabeça.

Minha mulher garante que não é verdade, que eu sou é distraído, mas juro que consigo – ou acho que consigo – ser multitarefa. Escrevo enquanto converso, como estou fazendo neste instante (e o assunto é futebol); converso no WhatsApp enquanto escrevo, como também estou fazendo neste exato instante; e também sou capaz de fazer tudo isso enquanto como um sanduba, como, acreditem, também estou fazendo neste instante. O fato é que, quando corro, penso em absolutamente tudo o que for pensável. Da crise brasileira aos primeiros cem dias da presidência de Trump, dos caminhos da MPB ao Fla x Flu do final de semana. Às vezes até lembro que estou correndo.

Existem, no entanto, muitos outros estilos de pensamento entre os corredores. Por exemplo: um tipo de corredor bem comum é aquele cara que dedica a mente a reflexões sobre sua performance em relação aos demais. Quem nunca viu um maluco que está correndo bem na dele, tranquilo, até que, ao ver alguém se aproximar, desembesta a galopar como um louco, tudo para impedir ser ultrapassado? Para alguém assim, parece que correr menos do que outra pessoa, especialmente se for mais velha ou do sexo oposto, é como se fosse uma vergonhosa declaração de fracasso. Outro tipo de corredor é o paisagista. Não pensa em nada, não vê ninguém, fica só apreciando a vista. “Nossa, a praia hoje está incrível!”, “Uau, olha só esse pôr do sol…” — e por aí vai. São perigosíssimos, pois para cair em um bueiro ou atropelar uma barraca de feira não custa nada.

 

 

Outro tipo de corredor engraçado é o vaidoso. Corre sem camisa, combina as listras da meia com as listras do tênis e com a faixa na cabeça, usa óculos aerodinâmicos, usa um relógio com GPS do tamanho de um melão e faz poses de estátua grega na hora do alongamento. Não há muito espaço em sua cabeça, de forma que o ego acaba mesmo ocupando toda a sua mente. Uma variação do corredor vaidoso é o corredor conquistador. Os que pertencem a essa classificação consideram a corrida um incrível ato de sensualidade, de forma que estão sempre fazendo caras e bocas, enquanto lançam olhares lascivos para os que compartilham as pistas de treinamento com eles. É um tal de ajeitar o decote, de jogar água sobre os cabelos e chacoalhá-los vigorosamente, de dar gritos de esforço, de fazer Kama Sutra nos alongamentos… Simplesmente não há como não percebê-los.

Prezado leitor: eu não sei o que passa na sua cabeça quando está treinando, mas não venha me dizer que não pensa em nada. Isso eu não consigo sequer imaginar. Ou melhor, até consigo. Consigo porque sou muito imaginativo e penso em muitas bobagens. O que não quer dizer que seja verdade.