Imagino que você já tenha malhado seus braços, peito, costas, abdômen, glúteos, coxas e panturrilhas algumas vezes na vida. Mas, alguma vez você exercitou seus pés? Não estou falando dos músculos da perna, como aqueles que movem os tornozelos de um lado para o outro ou para cima e para baixo. Estou falando de pequenos músculos que estão nos pés, que por sinal, são extremamente importantes para quem pratica atividades jogando o peso do corpo sobre eles.
Semelhante as nossas mãos, nossos pés possuem dedos e, na base deles, muitos ossos pequenos que se articulam entre si. Se existem vários ossos que se articulam, existe movimento. E se existe movimento, existem estruturas que controlam estes movimentos. No caso do pé, além de ligamentos (que não geram movimentos, apenas evitam o excesso de movimentos), existem vários músculos que geram pequenos movimentos nos pés. Estes movimentos deveriam ser comuns e fáceis de executar, mas atualmente, nossa tendência de usar sapatos, tênis, botas e diversos outros tipos de calçados fechados, em superfícies planas (ruas, calçadas, shopping, trabalho, casa, etc.) faz com que não exista a necessidade de usá-los.
Uma das principais funções dos músculos do pé é dar estabilidade e equilíbrio ao corpo. Quando eles se contraem de forma coordenada, os ossos ficam mais próximos, os arcos dos pés ficam mais firmes e a sensação é a de que o pé se transforma em uma ventosa, prendendo-se melhor ao chão, quando estamos em pé. Em alguns casos, é possível observar que o pé fica ligeiramente menor. Com o pé mais firme e “agarrado” ao chão, alguns músculos superiores diminuem sua contração, pela redução da demanda para manter o equilíbrio do corpo (no caso, para ficar em pé parado), relaxando então, músculos como a panturrilha, posteriores da coxa e da coluna (são os mais afetados).
Agora, vamos imaginar durante uma corrida. Quanto mais fraco for o pé, menor será sua capacidade de absorver impactos e de se ajustar a terrenos irregulares (areia, terra, grama, cheio de pedras, etc.). Quanto menores forem essas capacidades, maiores serão as compensações em músculos superiores, ou seja, estes últimos ficarão mais tensos, pois além de executarem suas funções, terão de executar as funções dos músculos dos pés (de forma bem menos eficiente). Algumas das principais lesões que podem estar associadas à fraqueza dos músculos dos pés são a fascite plantar e a tendinite de calcâneo (ou de Aquiles).
Neste momento, queremos saber como malhar estes pequenos músculos. Pois bem, é simples. Basta caminhar descalço em terrenos irregulares, várias vezes ao dia, como em gramados, pedras de rio (aquelas com pontas arredondadas – para não se machucar), areia ou terra. O problema é que a maioria de nós não tem acesso a estas oportunidades, diariamente. A sugestão é improvisar. Em casa mesmo, você pode andar descalço sobre um colchão, sofá ou tapete cheio de pelúcias. Ok, você não quer ser chamado de louco. Então, experimente tentar segurar uma garrafa pet, dessas de 500ml, com a sola do pé. Com certeza não conseguirá erguê-la (se conseguir, meus parabéns!), mas irá recrutar músculos que não fazia ideia que existiam no seu pé. Outro exercício é colocar um pano, ou toalha no chão, esticada embaixo do pé e tentar criar uma linha de dobra na toalha, sem usar os dedos. Tente também abrir todos os seus dedos (inclusive o dedinho), afastando o máximo que conseguir um dedo do outro (sim, isso também é possível) e depois faça o contrário, juntando todos e pressionando um contra o outro, o mais forte possível (novamente, não esqueça do dedinho). Para facilitar, antes dos exercícios você pode massagear o pé, pressionando os dedos da mão nos espaços entre cada ossinho do pé, estimulando os músculos e melhorando o tato. A dica é ficar em pé de olhos fechados e pés juntos, antes de “brincar” com o pé. Se seu treino foi eficiente, sentirá uma facilidade maior em se manter equilibrado.
Com certeza é um trabalho físico e mental que com o tempo vai ficando mais fácil, à medida que seu cérebro vai criando novas conexões motoras. Uma vez que seu corpo estiver bem treinado, o uso destes músculos torna-se automático, não necessitando pensar neles (da mesma forma que não precisamos pensar em dobrar ou esticar os joelhos para andar). Porém, não adianta treinar e automatizar tudo, se ficar um tempo muito grande sem necessitar deste ganho. Portanto, sempre que der, deixe os sapatos de lado e deixe o seu pé trabalhar!
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