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A presença feminina nos Jogos do Rio-2016 é marcante, gloriosa, especialmente para o Brasil, que teve com a ex-favelada Rafaela Silva o primeiro ouro nesta Olimpíada.
Nem sempre foi assim.
Como na vida, as mulheres sofreram –e, em muitos casos, ainda sofrem— forte discriminação no esporte. É uma das demonstrações de que o espírito olímpico não é exatamente a coisa mais bacana do mundo.
Na maratona olímpica, por exemplo, a presença da mulher só foi permitida nos Jogos de Los Angeles em 1984, quase cem anos depois da primeira edição dos Jogos da Era Moderna.
Até então, a cartolagem planetária inventava mil desculpas para impedir a participação feminina.
“Sexo frágil”, diziam os burocratas de plantão, argumentando que as mulheres não tinham condições de correr quarenta e dois quilômetros. Se corressem, perderiam não só a feminilidade como poderiam morrer; se não morressem, certamente jamais poderiam gerar filhos…
Esse tipo de bobagem era repetido a décadas, desde os tempos da primeira maratona olímpica, em 1896.
E, desde aquela época, as mulheres tratavam de mostrar que era pura lorota.
Proibida de correr a primeira maratona olímpica, uma moça de nome Melpomene –homenagem à musa da tragédia—não aceitou a restrição grotesca.
Mesmo sem inscrição oficial, participou da corrida olímpica, largando um pouco depois dos 17 participantes da maratona.
Completou a prova em quatro horas e meia, cerca de uma hora e meia a mais do que o vencedor, Spiridon Louis. Os guardinhas da época, encarregados de fazer valer a voz da cartolagem, impediram a moça de entrar no estádio Panathinaikos, onde era a chegada da maratona.
Indiferente à adversidade, Melpomene deu a volta olímpica pelo lado de fora do estádio, tornando-se a primeira maratonista da história.
No dia seguinte, outra brava guerreira, uma loira de 30 anos, mãe de dois filhos, repetiu a dose.
Como não tinham permitido que ela corresse a maratona olímpica, Stamata Revithi tratou de fazer sua própria corrida. Buscou assinaturas de testemunhas que confirmaram sua largada e chegada, deixando documentada sua epopeia de cinco horas e meia.
Nos anos 1960, a mulherada voltou à carga em defesa de seus direitos, reivindicando participação nas corridas de longa distância. Tiveram conquistas diversas, mas o Comitê Olímpico Interncaional continuava insensível.
A hora de verdade chegou no final dos anos 1970, quando as reivindicações femininas ganharam organicidade em um Comitê Pró-Maratona Olímpica Feminina, que chegou a ser presidido por uma brasileira, a grande Eleonora Mendonça.
Lutando nos gabinetes e fazendo campanhas abertas, finalmente conquistaram o que era seu por direito. E a primeira maratona olímpica feminina foi realizada no calorão californiano, o que propiciou a dramática cena da chegada da suíça Gabrielle Andersen.
É graças à luta de todas essas guerreiras, pioneiras de fé e coragem, de Melpomene a Eleonora, que o mundo pode ter hoje o grande espetáculo que vemos em cada edição dos Jogos Olímpicos.
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