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Primeiro quilômetro da maratona

Começar é não ter histórico. É se lançar no vazio. É não ter a menor ideia de onde aquilo vai dar. É largar a preguiça. É ter que ficar explicando tudo para todos. É se pelar de medo do novo, mas fingir que está tudo bem.

Isso vale para uma prova também. Eu garanto que o passo mais difícil aconteceu quando você fechou a porta de casa e colocou o pé na rua para dar seu primeiro passo correndo. Depois disso, você já estava indo em direção ao fim, que é a alegria total.

Corri minha primeira meia-maratona na Disney. No km 1, quando meu cronômetro apitou, pensei: “Puxa vida, que pena que está acabando”.

Não que aquele pensamento fosse meu otimismo gritando, mas era saudade do começo daquela história, da decisão de fazer uma prova um pouco mais longa, da alegria dos primeiros longões e de pensar que eu dava conta.

Às vésperas da minha quarta maratona, a de Berlim, tive o mesmo sentimento de “que pena que está acabando”.

E olha que aconteceu de tudo comigo nos treinos: fui atropelada por uma bicicleta, quebrei um dente, tive ataque de choro, uma dor na virilha me fez andar na ponta dos pés faltando 20 dias para a prova, pulei treino, reclamei com o treinador do volume, fiz funcional, faltei no funcional, herpes invadiram minha boca e sentia muito sono nos treinos
mais curtos. Fazendo as contas, foi incrível.

Obviamente que, em uma corrida longa, passando da metade você só pensa em parar e enterrar o dia em que decidiu começar tudo aquilo. Mas aqueles quilômetros não contam, porque sua cabeça não está no estado normal dela.

O legal da maratona é justamente o começo. Ali, quando todos estão emocionados esperando a largada. E você se faz perguntas que nem mesmo Platão, se vivo fosse, saberia responder.

Será que eu quero fazer xixi? Será que eu treinei o suficiente? Será que vou morrer no km 29? Por que estou aqui? Juro, o começo da prova é a coisa mais legal que você vai viver em sua vida de corredor amador.

E o final? Fio e fia, o final é a lama. Sua perna está dormente, há bolhas em algum lugar do seu pé, você não aguenta mais a batida no asfalto, sua cabeça implora para que aquilo acabe logo.

E faltam 9 km, 7 km, 5 km, 2 km e…. acabouuuu! Aí você se livra daquilo tudo, quer chorar, jogar o tênis longe, ir para casa nem que seja de jegue, desde que não seja andando.

Logo depois você pensa em quê? Em qual vai ser sua próxima prova. Porque o legal é começar. E a linha de chegada de qualquer corrida nada mais é do que o começo de uma nova.

Mesmo que doa, que você xingue a mãe do treinador a prova toda, que você só pense em desistir e se ache um idiota por completo. Você vai querer fazer outra. E outra. E mais outra. 

Anne Dias

Jornalista com especialização em economia e com nove meia maratonas no currículo: duas W21, Meia Maratona das Pontes (Brasília), Disney, Corpore, São Paulo, Uberlândia, Porto Alegre e duas Golden 4 Asics. Concluiu também duas maratonas: Nova York e Buenos Aires. E não pretende parar.

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Anne Dias

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