Com os punhos cerrados e os braços em forma de “X”, como se indicasse alguém aprisionado, o etíope Feyisa Lilesa cruzou em segundo lugar a linha de chegada da maratona nos Jogos Olímpicos do Rio-2016.
Ao lado dos protestos da torcida brasileira, erguendo faixas de “Fora Temer” em diversos momentos da Olimpíada, esse foi talvez o momento mais político, de maior impacto nos Jogos.
É bem possível que poucos, da audiência de centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro – no total, o Comitê Olímpico Internacional calcula que cerca de 3,5 bilhões de pessoas assistiram a pelo menos um minuto de transmissão dos Jogos -, tenham entendido naquele instante a mensagem de Lilesa, que é casado e tem quatro filhos.
Na coletiva com a imprensa internacional, porém, ele fez questão de esclarecer: era um protesto contra a violência a que seu povo, os oromos, estão sendo submetidos pelo governo da Etiópia.
“Nos últimos nove meses”, disse ele, “mais de mil pessoas foram mortas. E muitas outras estão presas.”
Repetindo o gesto de protesto, afirmou: “A situação está muito perigosa. Eu mesmo posso ser morto ao voltar, por causa de meu protesto. Você não pode se mover, você não pode falar com outras pessoas sobre política”.
Representantes do governo etíope disseram que isso era pura bobagem. De acordo com agências internacionais, o porta-voz do governo garantiu: “Ele não enfrentará qualquer problema por seu posicionamento. Afinal, ele é um atleta que conquistou uma medalha de prata a seu país.”
Lilesa não acredita. Está tentando um asilo provisório no Brasil, pensando em conseguir depois um visto para os Estados Unidos -pelo menos, é o que foi publicado na coluna de Lauro Jardim em “O Globo”.
O fato é que as tensões políticas na Etiópia não são de hoje. Em entrevista ao jornal “Mail&Guardian Africa”, o professor Asafa Jalata, estudioso da etnia oromo, explica que o país é dominado por um grupo que representa apenas 6% da população e é apoiado pelos Estados Unidos.
Os oromos, que são cerca de 35% da população da Etiópia, se consideram uma nação, a Oromia. Vivem uma região fértil do país, que é exatamente um dos motivos dos ataques que sofrem, segundo o estudioso.
Os atuais conflitos começaram em novembro passado, de forma curiosa: crianças de escolas primárias e secundárias da pequena cidade de Ginchi, a 80 km da capital, protestaram contra o confisco e a privatização de um campinho de futebol onde jogavam e de uma floresta.
Passaram a ter apoio da comunidade oromo, e os protestos ganharam força e peso político. Agora, o povo oromo quer democracia e direito à autodeterminação.
Tudo isso continuaria escondido, fora da atenção das agências de notícias internacionais, se não fosse o gesto simples, mas corajoso -temerário, até- de um maratonista solitário, medalhista de prata na corrida agora transformado em herói de seu povo.
Tomara que não se torne mártir.
PS.: se você quiser saber mais sobre o povo oromo, confira a íntegra da entrevista do professor Jalata, em inglês, clicando aqui
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