Por que gostamos tanto das corridas de rua?

Atualizado em 28 de julho de 2017
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Meus pais moram em Santos. E em Santos existe uma das provas de rua de 10 km mais famosas do mundo: vale grana, é internacional e quenianos do mundo inteiro aportam por lá. Acontece em maio, com largada ali pelas 8h30, num calorzinho como se você estivesse correndo no centro histórico do Senegal. Participei dela uns três ou quatro anos.

Numa dessas vezes, pedi para o meu pai me levar até a largada da prova, por pura preguiça de ir de ônibus até lá mesmo. Ele se levantou lentamente do sofá, foi até a janela e disse:

— Você vai correr aí na rua, né? É só pegar o elevado aí do lado, abrir o portão e ir correr, não precisa de carona para lugar nenhum.

Bom, ele me levou. Em 15 minutos eu estava na largada da corrida e ele voltou para casa.

Em partes eu entendo meu pai. Qual é o sentido de pagar para correr no asfalto, que é uma coisa que um corredor de rua já faz umas três vezes por semana? E outras: você fica preso a um percurso, tem que se acotovelar com umas mil pessoas, quase sempre passa sede e, tirando aqueles quatro nego da elite e as sete mocinhas corredoras que papam todos os pódios, você vai ganhar uma medalha de honra ao mérito e um muito obrigado por ter vindo.

Ah, mas tem público para te aplaudir, te animar, te empurrar para a frente! Tem sim, lá na maratona de Nova York, de Boston ou na ultra de Comrades, na África do Sul. No resto, é a solidão, o breu, o vazio no peito, uma coisa ruim. Então, por que a gente faz provas de rua? Porque é legal, oras!

 

 

• É legal acordar às 5h da manhã num pulo, coisa que você não faz nem para ganhar dinheiro.

• É legal ver um monte de gente acreditando na mesma coisa em que você acredita: que a corrida liberta.

• É legal testar seu pace, ser ultrapassado, ultrapassar e chegar inteiro ou capengando no final.

• É legal ver o tênis que a galera está usando.

• É mais legal ainda ver gente usando manguito, pernito, boné, óculos, mochila de hidratação, quatro qualidades de gel, creme antiassadura, meia de compressão, pochete. Tudo junto numa mesma pessoa. Demais!

• Ouvir o barulho dos copinhos de água sendo esmigalhados pelos pés dos corredores pelo percurso.

• Ver aquele bando de gente correndo, mais ou menos do mesmo jeito, num mesmo ritmo, como se zumbis fossem. Até porque são um pouco zumbis mesmo, né?

• Ora cheiro de Gelol, ora de suor.

• Se você nunca fez uma corrida de rua, a hora é essa.

• Se você já fez milhares, atente aos detalhes, que são as melhores partes de qualquer corrida de rua.

E, encontrando meu pai, diga para ele: “Seu Haroldo, o senhor tem toda a razão. Mas a gente acha legal fazer prova na rua. Dá uma carona?”. Certamente ele dará.