Poucos dias atrás sentei para almoçar com um nadador profissional amigo meu. Ele me contou uma história bizarra dos bastidores da natação nacional. Segundo ele, um dos maiores nomes da natação mundial pode não disputar sua principal prova simplesmente porque não suporta perder para um compatriota rival. Imagine que, mesmo que ele venha a ser vice-campeão olímpico, perdendo a medalha de ouro para esse outro sujeito, isso seria uma frustração tão grande que apenas a ideia dessa possibilidade pode tirá-lo do jogo. É ai que a competitividade atrapalha o triathlon.
Procuro evitar a promoção de disputas internas no meu grupo de triathlon. Competir é natural para quem gosta de testar seus limites. Mas, muitas vezes, a competitividade atrapalha o triathlon, por falta de um calendário mais atraente de provas, colocamos essa energia competitiva em sessões de treino nas quais promovemos disputas homéricas com nossos colegas-de-treino-arquirrivais. Até aí, nada anormal.
O problema é quando essa competitividade ultrapassa os limites do que é saudável e lúdico, tornando-se um tormento para os atletas que vivenciam isso. Cada treino passa a ser uma final de campeonato, em que correr na frente ou chegar antes ao cume da montanha é questão de vida ou morte. A partir daí, o estresse natural do grande volume de exercícios pelo qual um atleta passa é intensificado pelo medo de chegar atrás de um aliado de treino, o que, em vez de se tornar uma vantagem em busca de melhor performance, transforma-se em pesadelo. A estupidez se consolida quando um dos colegas passa a não ir ao treino, a não ser que se sinta completamente descansado e confiante para vencer ou ao menos empatar a tácita disputa.
É quando a rivalidade interna, muitas vezes atiçada por comentários nos grupos de WhatsApp ou em rodas de conversa, torna-se prejudicial em última instância. O que se pretendia ser um incentivo para o crescimento do grupo acaba prejudicando a rotina dos treinos.
Os treinadores e os atletas mais experientes, como líderes do grupo, precisam estar atentos para que isso não aconteça, conversando com os atletas e esclarecendo que, principalmente para os amadores iniciantes, a única competição que realmente importa é com o limite de cada um. E nada é mais importante do que a saúde mental individual e, por consequência, do grupo. Assim teremos anos de esporte e amizade. Com alguma rivalidade, mas com maturidade e respeito aos diferentes propósitos e níveis de treinamento.
(Coluna publicada na edição 108 da revista VO2, em março de 2015)
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