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República democrática da corrida: o mundo amador tem espaço para todos

Eu invejo a maneira como os norte-americanos reverenciam seus ídolos esportivos. Os americanos inventaram o Hall da Fama, produziram centenas de filmes e livros magníficos para celebrar seus heróis. Isso atesta uma capacidade de entender a essência do esporte em níveis inimagináveis para nós, brasileiros. Existe, entretanto, outro fato que diferencia os americanos dos brasileiros: eles simplesmente não se importam com o aspecto físico dos grandes astros.

O maior jogador de beisebol da história foi Babe Ruth, um gorducho incomparável. The Great Bambino fumava charutos, bebia como um gambá e comia hot dogs em quantidades industriais — mesmo durante as partidas. George Foreman, no auge de sua carreira, atraía o ódio dos torcedores. Derrotado por Muhammad Ali na inesquecível luta do Zaire, Foreman pendurou as luvas para se tornar um pastor evangélico.

Tempos depois, com mais de 40 anos de idade, retornou aos ringues e apanhou bastante antes de reconquistar o cinturão perdido há mais de 20 anos. Ao vencer a luta, pesando cerca de 40 kg a mais do que quando tombou diante de Ali, foi alçado à condição de ídolo eterno do esporte.

Os americanos também encontram espaço para baixinhos nos times de basquete e até para pessoas com deficiência nas equipes profissionais. Jim Abbott foi arremessador dos Yankees — e chegou a fazer um no-hitter game, a chamada partida perfeita.

Abbott não tinha a mão direita e acomodava a bola debaixo do braço direito antes de lançá-la com a canhota. Eu considero o futebol um dos mais belos esportes justamente por não ter preconceitos. Sócrates era magro como uma vareta, Eusébio era alto e forte, Romário é nanico…

A corrida, ao menos no mundo profissional, não é tão democrática. Quase sem exceção, os fundistas têm entre vinte e poucos e trinta e tantos anos, são esguios e pouco musculosos.

 

 

Mas quando analisamos a corrida como atividade amadora, ela é completamente democrática. Quantas vezes já fui ultrapassado por velozes e furiosos gorduchinhos? Quantas vezes vi a vovó de coque fazer a gatinha de academia comer poeira?

Quantas vezes o sujeito que corre de tênis Conga, camiseta furada e relógio cebolão no pulso cruzou a linha de chegada à frente da turma que corre vestida feito manequim de loja de artigos esportivos? Inúmeras vezes. E é justamente por isso que, até mais do que o futebol, posso dizer que a corrida é uma verdadeira festa da diversidade.

E, por isso, você não tem desculpa para ficar em casa. O.k.?

Marcos Caetano

Sócio da empresa de comunicação estratégica Brunswick Group e cronista esportivo.

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Marcos Caetano

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