A temperatura da água ingerida afeta o desempenho no ciclismo?

Atualizado em 28 de janeiro de 2021
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Quem nunca passou por isso? Pedal longo, dia quente. Você sai de casa abastecido com água gelada, mas passados alguns poucos quilômetros a água na caramanhola parece um chá, pois já está morna.

Mas ficar sem tomar água não é uma opção para o ciclismo, e toma-se aquela água um pouco morna mesmo. A sensação não é de refrescância, mas será que isso pode ser um problema para o rendimento no pedal? A ciência nos apresenta alguma respostas.

Em um estudo, ciclistas e triatletas repetiram dois esforços máximos de 40 km contrarrelógio em condições de ambiente quente (35ºC) e úmido (60% de umidade relativa do ar) em um deles podendo ingerir, quando quisessem, água gelada (4ºC) e no outro gelo ralado, aquele comum em algumas bebidas de beira de praia (-1ºC).

O resultado foi que no contrarrelógio os atletas que tomavam água gelada tiveram desempenho de tempo em média 2,5% melhor, e a potência média 2,2% menor do que na condição de ingesta do gelo ralado.

Ou seja, eles foram mais eficientes quando ingeriram água gelada. Os atletas também reportaram maior dificuldade na fase final do contrarrelógio no calor úmido quando ingeriram o gelo ralado, além de que ingeriram menor quantidade de líquido nesse caso do contrarrelógio com gelo ralado (1).

Mas se o melhor é ingerir água gelada, o que acontece se tomarmos aquela água quente da nossa caramanhola que pegou já muito sol? Novamente ciclistas (agora atletas de estrada e de mountain bike) realizaram teste de 40 km contrarrelógio em condições de calor e umidade similares ao estudo anterior.

Foram dois testes, em um recebendo água fria (nesse estudo, 10ºC) e água aquecida (37ºC). Os cientistas monitoraram quanto eles bebiam de água e quando eles tomavam, para garantir que nos testes sempre a mesma quantidade e tempo de ingestão ocorresse.

Foi observado que a ingesta de água morna não acarretou pior desempenho no tempo de contrarrelógio, e poucas mudanças fisiológicas foram observadas comparando os testes com água fria e água aquecida (2).

Interessante. A água gelada pode ser boa, mas se ela aquecer não será isso que vai prejudicar o rendimento. Pelo menos nessas condições de 40 km contrarrelógio.

Mas ainda podemos falar de mais uma coisa. Ingestão de água antes do exercício.

Em ciclistas recreacionais, a ingestão de água fria antes do exercício (quase um litro de água na temperatura de 2ºC) ao longo de 35 min antes de uma sessão de exercício resultou em menor temperatura corporal durante o esforço e maior distância percorrida para o tempo de teste (que era o mesmo para todos os atletas).

A potência média durante o exercício também foi maior quando os atletas tinham tomado água fria antes de começar o exercício.

Então aqui encerramos com a dica de tomar água gelada antes de começar o exercício, e durante o exercício, enquanto a caramanhola mantiver a água gelada, está ótimo. E quando ela aquecer, pode seguir tomando. Agora vamos esperar o verão para colocar isso em prática!

Referências

(1) Maunder E, Laursen PB, Kilding AE. Effect of ad Libitum Ice-Slurry and Cold-Fluid Ingestion on Cycling Time-Trial Performance in the Heat. Int J Sports Physiol Perform. 2017 Jan;12(1):99-105. doi: 10.1123/ijspp.2015-0764.

(2) De Carvalho MV, De Andrade MT, Ramos GP, Maia-Lima A, Pereira ER, Mendes TT, Marins JC, Amorim FT, Silami-Garcia E. The temperature of water ingested ad libitum does not influence performance during a 40-km self-paced cycling trial in the heat. J Sports Med Phys Fitness. 2015 Dec;55(12):1473-9.

 (3) Byrne C, Owen C, Cosnefroy A, Lee JK. Self-paced exercise performance in the heat after pre-exercise cold-fluid ingestion. J Athl Train. 2011 Nov-Dec;46(6):592-9.