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Nada como um dia depois do outro, reza o ditado popular. Ou nada como uma década depois da outra, no caso da história que conto agora.
Quarenta e oito anos depois de terem sido expulsos da delegação olímpica dos Estados Unidos por causa de um protesto antirracismo, os velocistas Tommie Smith e John Carlos não só foram recebidos em sessão de gala do Comitê Olímpico dos EUA como também receberam elogiosa saudação do presidente norte-americano, Barack Obama.
Para quem não lembra ou nunca ouvir falar da história, recordo aqui o mais emblemático momento dos Jogos Olímpicos de 1968, realizados na Cidade do México.
Na premiação da prova dos 200 metros, vencida por Smith, toca o Hino Nacional dos Estados Unidos. Enquanto soam os acordes do “Star Spangled Banner”, Tommie Smith e John Carlos, que conquistara o bronze, erguem o braço esquerdo com o punho cerrado, vestido com luva negra, enquanto baixam a cabeça.
Muitos viram ali a saudação dos Panteras Negras, organização de combate ao racismo nos Estados Unidos. Os dois atletas foram expulsos da delegação, mandados de volta ao seu país.
Mais tarde, os dois, que são negros, explicaram que seu gesto fora uma saudação em prol dos direitos humanos. Ninguém na cartolagem nem do governo nem de qualquer grupo político quis saber das explicações de Smith, então com 24 anos, e Carlos, que tinha 23 anos na época.
Naqueles tempos época de efervescência dos protestos da juventude e das ações pela paz, os dois corredores, medalhistas olímpicos, tiveram de amargar profunda solidão, abandonados pelos seus times, pelo seu país. Pois nada como um dia depois do outro.
Na quinta-feira da semana passada (29/09), os dois foram recebidos na Casa Branca por Michelle e Barack Obama, que fizeram uma homenagem às seleções olímpica e paralímpica dos Estados Unidos.
Smith e Carlos foram considerados “lendários” por Obama, que fez em seu discurso referência à contribuição dos velocistas rebeldes. “O seu poderoso protesto silencioso foi um ato controverso durante os Jogos de 1968, mas serviu para despertar as pessoas e criou maiores oportunidades para as gerações seguintes”, reconheceu o presidente dos Estados Unidos.
Na noite anterior, Tommie Smith e John Carlos já tinham sido desagravados pelo Comitê Olímpico dos EUA, que não apenas os recebeu em cerimônia como também fez deles embaixadores olímpicos do país.
E olha que Smith e Carlos não deixaram de lado o ativismo. Ao contrário: do alto de seus mais de setenta anos, continuam dando declarações em defesa dos direitos humanos e contra o racismo.
Na própria cerimônia do Comitê Olímpico, saudaram em seus discursos o movimento de jogadores negros de futebol americano, que vêm realizando protestos contra o racismo e contra a brutalidade policial nos Estados Unidos, que tem tido muitos negros como vítimas.
É mais uma demonstração de quão próximo o esporte e os atletas estão da vida cotidiana e de como o esporte é, sim, um palco de ação política, nas pistas, nos gramados e no asfalto – como foi o ato do corredor etíope na maratona dos Jogos do Rio-2016.
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