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Já era noite no sábado (4 de Julho) e faltavam apenas de Ultramaratona dos Anjos. No ritmo que estava, seriam pelo menos 4h de prova (ou um pouco mais). Lembro que o meu cansaço, e de todos, era gigantesco. Agora, a equipe estava toda reunida. Eu tinha dois carros de apoio e o que parecia uma vantagem acabou se transformando numa preocupação. Estava prestes a acabar a gasolina de um dos carros e estávamos no meio do nada, literalmente.
A equipe se dividiu e a esperança era do carro que estava quase sem gasolina chegar o último ponto de apoio a 8 km ou 10 km de onde estávamos. Quando cheguei no bar, último ponto de apoio, lá estava um dos nossos carros estacionados e parte da equipe tinha ido a pé buscar gasolina. Sentei, lavei as mãos e comi o ultimo pratão de macarrão, que a Úrsula havia negociado no bar antes de sair pra buscar a gasolina. Estava delicioso!
Faltava tão pouco. Olhei a lista das pessoas que tinham passado por lá… eu não conseguia entender direito, mas achava que era a 3ª colocada, distante 2h da 2ª colocada. Nesse ponto, o dono do bar me disse que ali, desistiram muitas pessoas e bastou ele falar isso para eu ter mais que a certeza que eu iria chegar. E não importava a colocação. Tinha suportado tanta dor e imprevistos até aquele bar. Eu iria chegar!
UAI: A SUBIDA DO PICO DO PAPAGAIO
Nisso, chegaram a Úrsula e o Alex com a gasolina. Logo, os dois carros de apoio estavam na ativa. Subi andando junto com a Vera, Marcellão, Taka e Úrsula uma rodovia sem acostamento. Garoava e tentávamos achar as setas da prova indicando o caminho — bem confuso nesse ponto. O Taka até subiu no meio do nada achando que era entrada da trilha. Tinha umas vacas no alto e ele ali no perrengue. Foi o suficiente para cairmos na gargalhada!
Finalmente, achamos e começamos a subir. Subida gigante, mas lembro do Fernando, organizador da prova, dizer que os últimos 12 km eram de descida… já comecei imaginar que estávamos errados e contagiei toda a equipe: “estamos errados!”. Cansada, sentei. Disse para procurarem o caminho que eu não iria sair de lá. Não iria descer tudo o que já havia subido para depois, se estivéssemos no caminho certo, ter que subir tudo de novo. Sentei na trilha mesmo, garoando e fiquei. Hoje, dou risada da situação, mas àquela hora foi tensa. Inclusive encontramos outros atletas com a mesma dúvida.
O Alex e o Mó gritaram que era o caminho e seguimos. Um sobe, sobe sem fim e nada da descida. Minhas plantas dos pés estavam judiadas, mal conseguia ficar de pé. Tive que sentar mais vezes e o frio e a chuva apertavam.
Alternamos caminhada muito lenta com um trote. Começou então a chover muito e eu (mesmo com uma jaqueta de pluma, corta vento e uma capa de chuva) estava com muito frio. Olho para o lado e o Taka de camiseta. O Alex, caminhando e trotando comigo, pergunta rindo: “E aí, Taka? Não tá com frio?” Rimos!
Todos no carro e a Ursula sai para dar uma jaqueta para o Taka naquela ventania doida de ter que fazer força para o corpo continuar de pé. O Taka diz que não precisa! “Meu Deus, ele tá delirando”, pensei.
Por falar em delírio, faram nesses últimos 12 km que delirei de verdade. Primeiro vi o atleta que ganhou a BR em fevereiro desse ano fazendo xixi na trilha. Olhei e pensei, “poxa, até que não estou tão lenta se esse cara está aqui”. Falo para o Alex e o Taka, “olha aquele cara que ganhou a BR, está aqui também”. Eles olham para mim e o Alex: “Vivi, não tem ninguém ali”. Olho novamente e continuo vendo o cara, “Como não, Alex?!”. Gargalhadas! Só ouço que eu estava doidona já. E mais risos.
A partir disso, comecei a ver muitos objetos e pessoas na trilha. Um atrás do outro e sabia que era tudo delírio. Ou achava que era. Como estava consciente da minha situação, relaxei e chegando mais perto do objeto ou pessoa que eu achava que estava vendo, eu olhava de novo e desaparecia. Eu estava no limite das minhas forças.
Enfim, a descida até Passa Quatro. Quando gritávamos que estava chegando, A Úrsula que nessa hora, corria comigo, junto com Alex e o Taka, falou: “ainda temos que achar ao pórtico na cidade.”. Eu sentia um misto de desânimo, com euforia. Difícil explicar. Imaginava fazer essa prova em menos tempo, mas ao mesmo tempo sabia que a menina que havia ganhado em 2014, fez em 45h. Exatamente o tempo que pela minha nova previsão, eu concluiria o desafio da Utramaratona dos Anjos. E, além disso, eu era desconhecida entre aqueles restritos atletas. Estar entre eles e ser capaz de terminar essa prova, e ainda em 3º lugar na geral, era sensacional! Uma experiência de vida que não tem preço e que havia ganhado para sempre.
Cruzamos todos juntos o pórtico de chegada! A alegria, o alívio de termos vencido, a sensação de vitória, superação, garra, força e estratégia em equipe… toda a minha e a nossa preparação em equipe valeram cada suor, cada km, dessa jornada inesquecível de vida: 235 km pela Serra da Mantiqueira, a Ultramaratona Internacional dos Anjos.
Nós vencemos!
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