Há uma antiga — e verdadeira – teoria sobre marketing que diz que a publicidade não é capaz de criar necessidades, apenas estimular as que já existiam. De fato, nunca ouvi falar de uma campanha capaz de fazer alguém comprar areia no deserto. É verdade que já paguei mais de R$ 100 por um bloco de acrílico com a lama do Rock in Rio de 1985, mas isso não significa que eu tinha um desejo reprimido por comprar lama, e sim muita vontade de ter algo capaz de demonstrar que participei daquele momento. Seguindo esse raciocínio, tive necessidade de ter um videocassete muito antes de o aparelho ser inventado. Nos anos 70, meu irmão e eu gravávamos o som das séries de TV, como ChiPs e Jornada nas Estrelas, para ouvi-las sempre que tivéssemos vontade. Se o DVD estivesse à venda na época, é claro que teríamos comprado um.
Contei tudo isso porque achei divertido compartilhar. Mas, também, porque acho interessante quando encontro comportamentos e situações para os quais não havia uma expressão definidora, até que aparece o jeito certo de explicar tudo com um par de palavras. Um bom exemplo é a situação de um cara que se separa da mulher com quem tinha um cachorro. Na separação, o cão fica com ele e acaba, mais adiante, sendo “adotado” pela próxima esposa do sujeito. Um troço bem difícil de explicar, convenhamos — até que alguém se saiu com esta: “cão enteado”. Brilhante! Assunto liquidado com duas palavras. Por esse mesmo raciocínio, acabo de descobrir que há 15 anos sou um “corredor analógico”, outra expressão genial e que explica um monte de coisas com duas palavrinhas.
Há anos que vinha buscando um jeito de definir meu estilo de corredor. Não gosto de correr com cronômetro e uso, no máximo, um relógio leve para saber as horas. Deus me livre daqueles cebolões que dizem até se vai chover em Guaratinguetá quando você está dando voltas no Ibirapuera. Acho um exagero de peso, de informação e de cafonice. Também odeio aquelas fitinhas no peito, para saber a pulsação, a pressão, a glicose, o colesterol, o teor alcoólico e as previsões para a rodada. Já me preocupo demais em correr sem tropeçar, imagine se ainda tivesse que pilotar meus sinais vitais num computador de pulso. Rejeito tênis cibernéticos, apps para compartilhar os roteiros e as distâncias percorridas, roupas inteligentes ou qualquer outra bobagem digital e tecnológica além de um bom par de tênis, uma camiseta que não encharque de suor e meias que não apertem as canelas nem causem bolhas. Esse é meu equipamento de corrida. Esse sou eu. Só não sabia que isso tinha nome. Não fazia ideia de que era um “corredor analógico”.
A O2 deste mês resolveu um dilema existencial. Agora tenho orgulho de dizer, e sem risco de ser incompreendido, que sou um corredor analógico. Não tenho GPS, não sei minha velocidade, para que lado sopra o vento, não buzino nem dou seta para ultrapassar. No máximo um “opa, opa, licença aí, minha tia!” ou um simples “libera a pista, caray!”, como fazem os meus correligionários — e orgulhosos de sua condição primitiva, bruta e máscula. Uma espécie em extinção, é verdade. Talvez por causa do marketing e suas necessidades, dirão alguns. Mas não ligamos. Saiam da frente para não danificar seus cronógrafos escandinavos — porque aí vamos nós!
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