A quase impossível busca por patrocinadores

Atualizado em 22 de julho de 2016
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 A captação de recursos é um dos processos fundamentais para a realização de quase todos os projetos filantrópicos e que necessitam de apoio financeiro. Podemos criar, a muito custo e sacrifícios pessoais, os nossos projetos, elaborarmos em forma de palavras e estruturar os nossos sonhos, darmos forma e conteúdo ao que antes eram simples nuvens e pensamentos em nossa mente.

Um projeto deve ser tratado como uma dissertação, deve ter orientação, passar por uma banca examinadora e ser produtivo para o mundo prático. Como uma boa dissertação, deve ter princípio, meio e fim. Sempre sendo aplicado a nossa realidade, ser economicamente sustentável, ser viável para a realidade em que ele vai ser introduzido, de modo a trazer benefícios as pessoas agraciadas.

A melhor forma de contar sobre a captação de recursos é contar um pouco da prática que tive ao longo dos anos. Meu primeiro projeto de preservação do meio ambiente marinho surgiu em 2005, quando minha empresa de treinamento experiencial a vela estava no auge, tínhamos acabado de ser capa do Jornal do Brasil e a empresa ia a todo pano. Fazíamos treinamentos para as maiores empresas do Brasil. Eu não estava satisfeisto com meu trabalho, profissionalmente estava realizado, não tinha do que reclamar. Queria ter de volta a minha vida no mar, em contato absolutamente direto com a Natureza.

Muitos me criticaram severamente por abandonar a empresa e me dedicar a um sonho, um sonho que me custou muito caro profissionalmente. Larguei a empresa em março e no mesmo mês comecei a captação de recursos para a nova Expedição. Surge então a idéia e o ideal das Expedições Mistralis em prol do meio ambiente.

Foi uma nova aventura para mim, mas nenhuma novidade, pois já havia começado uma empresa do nada e pensava que captar recursos não poderia ser uma coisa tão difícil já que muitas empresas nos conheciam e eu já tinha as portas abertas em várias delas.

Mas a história não foi bem assim. Eu era muito bem recebido na área de recursos humanos, mas quando se tratava de marketing a conversa era outra. Demorou muito tempo para entender o que eles falavam, até hoje não consigo entender. Eu trabalho pela alma, por amor a uma causa maior do que o simples dinheiro, enquanto o marketing trabalha exclusivamente para a divulgação da marca, do dinheiro, da propaganda. Difícil, quase impossível, encontrar empresas que se preocupem em aliar preservação do meio ambiente e investir de verdade nele. Quase todas, digo quase, estão interessadas em lucrar alguma coisa.

A criação do projeto foi rápida, pois ele já estava todo na minha cabeça há anos, então demorei apenas um mês para transformá-lo em realidade. Daí surgiu a Expedição Mistralis – Velejando e Conscientizando 2005, a tarefa que se mostrou impossível foi conseguir patrocínio para a mesma. Mas eu já havia formado uma Equipe e iríamos zarpar, então com 25% de patrocínio e 75% de capital da minha empresa fomos realizar a Expedição.

Como projeto piloto, posso afirmar que foi um sucesso pessoal. Quem se interessar pode ver no site www.mistralis.com/exp. Depois disso ficamos parados por um tempo e em 2007 surgiu a idéia de retomarmos as expedições. Agora iríamos fazer algo em prol do aquecimento global, das pesquisas científicas e produções de audiovisual.

Agora eu precisava me preparar, estudar, conhecer mais sobre o assunto, comecei a procurar os pesquisadores internacionais. Estudar as questões sobre o degelo polar, sobre a Groenlândia, o degelo do Ártico e as questões sobre o aquecimento global em geral, para depois me focar com as nossas questões (secas mais freqüentes, ressacas mais freqüentes e fortes, erosão costeira, possível mudança de corrente marítima no norte de Natal, branqueamento dos corais, diminuição do pescado, etc). Contudo, no Brasil tudo ainda são hipóteses, poucas coisas podemos confirmar, na nossa próxima Expedição estaremos contribuindo com a comunidade científica para provar que o aquecimento global é uma realidade brasileira.

A foto abaixo foi a que motivou o surgimento da nova expedição, nela surge uma fissura descomunal (em verde e amarelo) que vai da Noruega até o centro do pólo norte, tal fissura deveria ter se congelado no inverno, mas isso não aconteceu. Demonstrando que nosso planeta está sofrendo catástrofes irreversíves e que precisamos tomar medidas severas agora, antes que seja tarde demais. Se já não for.

Depois de muitas pesquisas, reuniões com cientistas, me via como na época da faculdade devorando livros e estudando sobre o assunto. Enfim, estou com a idéia muito clara do que está acontecendo com nosso Planeta e vejo que precisamos alertar as pessoas sobre o aquecimento global em nosso país. Daí começa a minha procura por pesquisadores brasileiros que estejam estudando o assunto, vou ao encontro deles, alguns se mostram interessados, outros não me recebem, mas continuo a tentar fazer parcerias e oferecer o veleiro Mistralis como uma ferramenta que possa ser usada para a pesquisa, um barco de apoio que pode fazer as pesquisas que eles quiserem. Mas a desconfiança e a falta de interesse e de `tempo- predominam, contudo, achamos pessoas nobres que ainda se preocupam com o meio ambiente e acreditam no nosso ideal de preservação, pessoas como o Dr. Venerando Amaro que vem nos apoiando desde o começo desse projeto.

O projeto demorou mais de seis meses para ser finalizado e em outra matéria está detalhado o que iremos fazer. Depois de finalizado o projeto, era hora de começar a captação de recursos, mais uma vez voltar para o escritório e procurar as empresas que estivessem `preocupadas- com o aquecimento global e com a preservação do meio ambiente. Agora temos mais tempo, só iremos zarpar em meados de 2008.

Mas não podemos desisitir. Desde junho de 2007 estou na captação de recursos, já falei com mais de 50 empresas, já visitei várias cidades para o projeto de educação ambiental e para as pesquisas científicas e ainda estou reformando o Mistralis (www.mistralis.com/ref).

A transformação dos nossos sonhos de expedicionários acontecem, ao meu ver, da seguinte forma:

1. Sonho, criação, uma fase complexa, cheia de idéias, pensamentos confusos e difusos;
2. Elaboração do projeto, transformar o sonho em algo palpável, uma etapa que irá demandar muito esforço e muito sacrifício intelecutal. Depois de escrever o projeto será preciso ler, reler e com certeza mandar para uma pessoa corrigir o texto, não tente você mesmo fazer, pois você não vai conseguir por melhor que você seja, você vai estar saturado de tanto reler o seu texto. Peça ajuda a um professor de português, não a um amigo.
3. Com o projeto na mão é a hora de pesquisar as empresas para quem você deve ligar, se prepare, agora é a hora mais enfadonha de todas. Pesquise sobre a política da empresa, saiba tudo sobre ela, leia tudo com calma, saiba como eles pensam, estude-os antes de ligar, analise-os. Saiba `mais- do que eles, mostre conhecimento e interesse. Quando ligar procure falar com o departamento de meio ambiente, mesmo sabendo que esse não vai mandar em nada no seu projeto, mas ele irá ou pode dar o nome da pessoa que decide no marketing e pode dar um parecer sobre o seu projeto. Não peça logo o nome da pessoa de marketing, a não ser que a empresa seja pequena. Daí para frente é com você, fale com firmeza, sinta a pessoa, interaja com ela. Tente quebrar a barreira imposta a você, seja simpático e firme; objetivo, direto e perspicaz. Pegue o e-mail e espere, boa sorte! Se não responderem em 15 dia
s, ligue de novo.
4. Não desista. Há de ter uma empresa que vai se interessar pelo seu projeto, mas reflita antes e veja se o seu projeto é realmente bom.

Depois de muita espera e batalha conseguimos o patrocínio da ESAB, da CSL e da WEG, além dos apoios institucionais com algumas faculdades que irão dar suporte em terra firme. Mas foi uma luta muito grande chegar até isso, foram muitas noites sem sono e há ainda muito trabalho pela frente.

Agora ainda estamos na etapa da reforma do veleiro Mistralis, na elaboração da cartilha de educação do meio ambiente e começando a fazer o contato com as comunidades que iremos visitar.

Bons ventos!