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Unidades do Sesc exibem “A Corrida do Doping”

O escritor e cineasta Paulo Markun, antes de tudo isso, é um jornalista. Como tal, aproveitou o chamado “gancho” e lançou, a pouco mais de duas semanas do início dos Jogos Olímpicos do Rio, na última terça-feira (19), no CineSesc, “A Corrida do Doping”.

O documentário, com duração de 90 minutos, aborda vários temas e subtemas relacionados à utilização de drogas ilícitas para incremento de performance esportiva. A maior parte do filme não oferece novidades aos consumidores de notícia mais ávidos pelo assunto, mas “A Corrida…” proporciona uma boa iniciação no submundo da falta de ética esportiva.

Com excelente reputação, Markun não é conhecido por trabalhos no âmbito do jornalismo esportivo. Esse olhar não-especializado é bom para o filme e, ao mesmo tempo, mau. Apesar de aproveitar o gancho olímpico, o filme, em seu início, talvez para ganhar a atenção de um público mais amplo, patina em cenas da Copa de 2014. David Luiz, o zagueiro cabeludo de triste lembrança (7 a 1), aparece num momento em que é abordado por oficiais do controle de dopagem. Começo desnecessário, pouco informativo. No momento em que o filme enfim se prontifica a abordar os esportes olímpicos, engrena.

A pergunta que norteia a apuração é: “Serão os Jogos do Rio os mais limpos ou os mais sujos da história?”. O médico Eduardo de Rose, fundador da Wada (Agência Mundial Antidoping) e uma das maiores autoridades sobre o assunto no Brasil, dá uma informação importante para o leigo: as amostras colhidas durante os Jogos Olímpicos são preparadas para ser conservadas por dez anos.

Caso a tecnologia para flagrar substâncias que escapem ao cervo evolua, os atletas capazes de burlar o controle em 2016  poderão, em tese, perder suas medalhas em 2026. A melhor resposta é de Francisco Radler, responsável técnico pelo laboratório Ladetec: “se o número de casos de doping positivos for recorde, serão os mais sujos; se for o mais baixo número, serão os mais limpos. Mas, se forem mais limpos, é possível que a burla esteja num nível por ora inalcançável pelos instrumentos de detecção disponibilizados pela tecnologia atual. E isso é ruim.”

O público interessado deve acompanhar o site da rede do Sesc em São Paulo para verificar os horários e locais de exibição. Uma versão com 72 minutos será exibida pela Globo News, que participa, ao lado da Globo Filmes, da produção. A produtora Arapy se incumbiu do trabalho.

O roteiro, um tanto mal amarrado, atira para vários lados. E acerta alguns alvos. Um ponto lança luz para o poder do futebol. O doping genético, que consiste na injeção de plaquetas sanguíneas capazes de acelerar a regeneração de tecidos musculares lesionados, proibido em outros esportes, é uma técnica que não recebe punição no endinheirado e poderoso mundo da bola.

A força do documentário, derrapadas à parte, reside no time de entrevistados. Lance Armstrong, o norte-americano que se dopou para conquistar por sete vezes o Tour de France, é ouvido; também aparece Christophe Bassons, francês que é uma espécie de anti-Armstrong. Trata-se do ciclista que resistiu à pressão de sua equipe para se dopar e decidiu trocar o esporte profissional e sujo pelo amador e limpo.

Richard Pound, ex-diretor da Agência Mundial Antidoping, oferece parte de seu vasto conhecimento ao espectador, bem como o jornalista investigativo alemão Hajo Seppelt, autor de um documentário que abalou as podres estruturas do esporte russo de altíssima (e mentirosa) performance.

Por falar em Rússia, o grande trunfo do filme reside nas ótimas entrevistas com Yulyia Stepanova, a meio-fundista que denunciou o uso de substâncias ilícitas e provocou o desabamento do podre edifício de mentiras daquele país, e com Vitaly Stepanov, marido de Yulyia e ex-funcionário da agência antidoping russa. O casal se exilou nos Estados Unidos, temendo riscos.

Ao fim dos 90 minutos, quem sabe pouco sobre doping sairá das salas de exibição do Sesc bem informado. As histórias de manipulação de resultados e de enlameamento do esporte são, é claro, impactantes. Fica uma sensação de que se deve desconfiar de tudo que será visto no espetáculo que se inicia no dia 5, no Rio. Melhor não saber?

Alessandro Lucchetti

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