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Por Thaís Ferreira
Todo santo mês, mulheres estão sujeitas a cólica abdominal, inchaço, retenção de líquido, mama sensível, dor de cabeça e, não raro, um mau humor danado. E toda essa lista se resume, no m das contas, a três letras: TPM, a popular tensão pré-menstrual. Nessas horas, até as corredoras mais fiéis aos treinos hesitam em seguir no mesmo ritmo. Pode bater aquele peso na consciência por desacelerar o passo, mas o ideal é sempre buscar conforto e segurança nas pistas, sem precisar pendurar os tênis. Entre uma passada e outra, é possível minimizar todo o mal-estar do período. Quer uma comprovação científica?
Pois bem, saiba que essa melhora dos incômodos ocorre, em primeiro lugar, porque a TPM é basicamente um desequilíbrio hormonal. “Um dos tipos, a Tensão Disfólica Pré-Menstrual, está relacionado aos neurotransmissores, principalmente à falta da serotonina”, explica Sergio dos Passos Ramos, ginecologista da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp). Esse hormônio, um dos responsáveis pelo prazer, é estimulado na região cerebral pela atividade física, dando um basta nas constantes mudanças de humor.
Analgésico natural
Manter-se exercitada na TPM tem impacto, até mesmo, sobre aquela loucura por chocolate nos dias de tensão, uma vez que a atividade reduz o cortisol, o hormônio que deixa a mulherada estressada e, consequentemente, com desejo voraz de doce. Pesquisa recém-realizada pela Universidade de Connecticut (EUA), porém, reforça a teoria de que a corrida é bem-vinda na TPM não só por essa regulação hormonal, mas pela liberação da endor na. Seu nome: endo (interno) + morfina (analgésico) não esconde seu potencial.
Tem mais: o exercício intenso pode diminuir o inchaço provocado pela progesterona em alta no período, além da sensação de que seu peso corporal duplicou. Vale dizer que corredoras têm tendência a reter líquido especialmente nos membros inferiores. O alívio vem graças à melhora da circulação no organismo. Sem esquecer de que com a corrida elimina-se mais líquido pelo suor e respiração, diminuindo as chances de sua retenção no corpo. Os efeitos, entretanto, são gradativos e evoluem à medida que a mulher se adapta à performance.
ATAQUE PELAS COSTAS DA CORREDORA
A ROTINA CORRIDA DA MAMÃE QUE TREINA
AI, QUE DOR FORTE NAS CADEIRAS
Treino plano B
Seguir a planilha de treino, no entanto, pode trazer desconfortos a muitas atletas na TPM. As mamas, por exemplo, ficam mais pesadas e doloridas, devido às modificações que o tecido mamário sofre com a montanha-russa hormonal. Para garantir segurança máxima, prefira modelagens com costas estilo nadador e alças largas, além de costura especial para sustentação dos seios, sem achatálos. Mas se sua crise na TPM se chamar cólica abdominal (estimulada pela alta do hormônio prostaglandina, que provoca a contração do útero), exercitar a região pélvica e fortalecer o abdome são boas ações preventivas.
Para aliviar a tensão pós-treino, não pule o alongamento depois de percorrer seus quilômetros. A retenção de líquido na TPM, mais uma vez, é a culpada da história, causando insistentes dores musculares. “Os músculos mais beneficiados são o trapézio (na região das costas, próximo à nuca), a lombar, a coxa e os glúteos”, indica o médico do esporte Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE).
Respeito ao ciclo
Em situações extremas, o exercício intenso é considerado uma forma de estressar o organismo. O cérebro entende que o corpo da mulher, colocado nesse limite físico do esporte, não pode dar conta de uma gravidez. Daí a razão para diversas esportistas apresentarem amenorreia, a parada total da menstruação em idade fértil durante ciclos consecutivos, principalmente entre maratonistas. Estima-se a prevalência de amenorreia em 50% das corredoras competitivas e em 25% das atletas amadoras.
O problema pode ser estimulado, ainda, por dietas radicais. As atletas exageram no corte nutricional para perda de peso, mas se esquecem de que os hormônios sexuais têm como matéria-prima o próprio colesterol do organismo. “Uma mulher com baixo percentual de gordura e muita massa magra pode ter dificuldade na gênese desses esteroides (estrógeno e progesterona)“, alerta Alexandre Hohl, presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). Resultado disso? Bagunça no ciclo menstrual, além de chances para um diagnóstico de osteopenia. A doença, caracterizada pela diminuição da densidade mineral dos ossos (precursora da osteoporose), surge uma vez que o estrógeno, que protege o cálcio e ajuda na renovação dessas estruturas, pode estar com sua reserva em baixa. A cilada maior é o risco de fratura por estresse, já que a saúde da corredora está fragilizada. Esses três fatores somados — dieta fraca, amenorreia e ossos vulneráveis — recebem o nome de tríade da mulher atleta. Corra dela!
Fim da TPM forever?
Isto é fato: a perda mensal de sangue pode atrapalhar (e muito!) o rendimento de atletas pro ssionais. Isso porque no uxo menstrual há também uma redução nas hemácias e hemoglobinas, estruturas responsáveis pelo transporte do oxigênio, que traz energia aos músculos. Por isso, a maioria das corredoras competitivas, para manter a linearidade nos treinos pelos ‚ dias do mês, fazem uso de pílula contínua e outros métodos contraceptivos de efeito prolongado. Acompanhamento médico, porém, é obrigatório para todas.
(Fontes: Alexandre Hohl, presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Neurologia Experimental e Clínica da Universidade Federal de Santa Catarina (Nupnec-UFSC); Jomar Souza, ortopedista, traumatologista e especialista em medicina do exercício e do esporte e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE); e Sergio dos Passos Ramos, especialista em ginecologia e obstetrícia pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp)
(Matéria publicada na Revista O2 – edição #114 – outubro de 2011)
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