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Foi nos anos 1960 que as pílulas anticoncepcionais chegaram ao mercado, tendo o importante papel de “libertar” a mulher sexualmente. Mas, mesmo com o aprimoramento do método contraceptivo ao longo do tempo, a ciência ainda não conseguiu criar uma pílula sem efeitos colaterais — apesar de ter conseguido diminuí-los bastante e ainda obter efeitos positivos (diminuição do inchaço, menor impacto na libido e na oleosidade da pele).
Recentemente, porém, alguns estudos têm relacionado o uso de métodos contraceptivos com alguns problemas de saúde: trombose, depressão e até queda do rendimento esportivo. Será que o preço a se pagar por essa “liberdade sexual” vale a pena? E nas mulheres corredoras, o efeito das pílulas anticoncepcionais é bom ou ruim? Entender o que ocorre no seu corpo te ajuda a se preparar para enfrentar cada uma das fases do mês e escolher o melhor método para o seu organismo — sem atrapalhar o seu rendimento nos treinos.
Quando falamos de performance, os hormônios têm papel fundamental. Dentro do ciclo, vão existir dias em que treinar parece um sacrifício. Quem é mulher sabe: não é fácil lidar com esses altos e baixos hormonais em vários aspectos da vida. E ingerir mais hormônios pode bagunçar um pouco o funcionamento do organismo.
Na formulação das pílulas de hoje, são combinados dois compostos: o estrogênio e a progesterona. Reduziu-se a dose hormonal e também o número de efeitos adversos, no entanto, os hormônios continuam a ter efeitos colaterais.
Sabe-se que o hormônio da pílula interfere no sistema circulatório, dilata os vasos, a viscosidade do sangue e, consequentemente, a coagulação. Pesquisas recentes identificaram possíveis variações no desempenho aeróbico, capacidade anaeróbia, potência anaeróbia e força reativa ao longo do uso de contraceptivo oral.
Uma pesquisa da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (RS) investigou efeitos dos contraceptivos hormonais sobre o grau de força muscular e na composição corporal de mulheres jovens atletas. Um grupo delas usava contraceptivos orais de terceira geração há pelo menos cinco anos e o outro utilizava a camisinha como método contraceptivo. Os resultados mostraram que, em relação à composição corporal, as atletas do primeiro grupo (com anticoncepcional) apresentaram medidas de dobras cutâneas, circunferência corporal, percentual de gordura e peso mais elevados do que as atletas do outro grupo.
“O anticoncepcional hormonal oral diminui a quantidade de testosterona, já que estimula a produção de uma proteína chamada de globulina ligadora de hormônio sexual (SHBG). Ela se liga à testosterona, diminuindo sua forma ativa, a forma livre, o que influencia a performance física, o ganho de massa muscular e a queima de gordura”, explica Roberto Franco do Amaral, especialista em patologia clínica.
O médico explica que outras formas de anticoncepcionais hormonais, que não sejam orais, não elevam a SHBG da mesma forma, mas também podem causar deficiência hormonal em mulheres, acarretando problemas sexuais e de composição corporal. “A troca do anticoncepcional hormonal por DIU de cobre ou camisinha também pode ser a solução desse problema em mulheres jovens”, sugere.
Mas vamos com calma. Outro estudo sueco comprovou que as pílulas anticoncepcionais podem trazer benefícios para as atletas. Os especialistas analisaram dezenas de jogadoras de futebol profissionais e descobriram que elas estavam mais suscetíveis a lesões traumáticas (ósseas) durante o período pré-menstrual e menstrual. Em contrapartida, as que disseram utilizar a pílula apresentaram menor taxa de lesões. Isso se explica pelo fato de os contraceptivos atenuarem alguns sintomas que podem afetar a coordenação nos períodos citados — e, consequentemente, aumentar o risco de contusões.
Estima-se que 25% das brasileiras utilizem anticoncepcionais por via oral. Antes de começar qualquer tratamento, consulte um ginecologista, pois só um especialista poderá avaliar qual é a melhor opção para você, levando em consideração seu quadro clínico atual, seus hábitos, sua rotina e treinamentos. E não se esqueça, o uso de anticoncepcionais não anula os benefícios dos preservativos no combate às doenças sexualmente transmissíveis (DST).
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