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Tenho joelho em X, e agora?

Por Paula Ricupero

Se você está sentindo alguma dor ou incômodo no joelho durante a corrida, saiba que talvez a causa disso seja um mau alinhamento das pernas. Entre os tipos de desvios existentes, há um que é duas vezes mais comum entre as mulheres: o geno valgo. Quando muito acentuado, ele pode provocar uma série de problemas à saúde, como tendinites, bursites, desgaste da cartilagem e artrose.

Popularmente chamado de joelho em X, o geno valgo é caracterizado pela aproximação dos joelhos e o afastamento dos pés. De acordo com o ortopedista Renê Abdalla, especialista em ortopedia e traumatologia, toda criança nasce normalmente com joelho valgo, mas esse desvio tende a ser corrigido durante o crescimento. “Ao chegar à fase adulta, mesmo que a pessoa permaneça com um leve valgo (entre 3 e 5 graus), esse desvio é considerado normal e, portanto, não irá trazer riscos de lesões e problemas na articulação no futuro”, explica.

Contudo, quando excessivo ou acentuado durante tarefas dinâmicas, como correr e saltar, o valgo pode trazer consequências no futuro para a articulação dos joelhos devido à sobrecarga que ele proporciona. De acordo com Ana Paula Simões, ortopedista e traumatologista do esporte, por terem os quadris mais largos, as mulheres são ainda mais propensas a sofrer com esse desvio. “Quanto maior o quadril da atleta, maior a possibilidade do eixo de carga sair do normal e, para melhorar esse equilíbrio, o joelho ‘muda seu ângulo’ para dentro para compensar”, explica.

Além do tamanho do quadril, outro fator contribui para que se agrave o quadro de geno valgo entre as mulheres: a menor quantidade e qualidade de massa muscular. Durante a corrida, os músculos são responsáveis por absorver parte do impacto, portanto, quanto menos força muscular o atleta tiver, maior será a sobrecarga nas articulações. Segundo Abdalla, é essencial que se trabalhe a musculatura por dois motivos: quem possui joelho valgo tem maior probabilidade de ter alteração na cartilagem da rótula, quer seja uma condromalácia, que é o amolecimento da cartilagem articular da patela, ou um mau alinhamento de rótula. “Ao manter a musculatura adequada, essa consequência acaba sendo minimizada”, afirma.

Identificando o problema
Quando se trata de um caso de geno valgo fisiológico, este tende a ser corrigido naturalmente ainda na infância. O mau alinhamento pode ser detectado por meio de exames médicos e raios X. Segundo Ana Paula Simões, uma linha é traçada a partir da cabeça do fêmur, passando pelo joelho e indo até o tornozelo. Quando esse eixo vem para dentro, o diagnóstico é de joelho valgo; e se a linha sai para a lateral, trata-se de um caso de geno varo, que é quando os joelhos se afastam e os pés se aproximam, formando um ângulo de abertura interna. Contudo, há ocasiões, chamadas de valgo dinâmico, em que a aproximação dos joelhos ocorre de maneira mais acentuada em alguns pacientes durante o movimento da flexão dos joelhos. “A melhor maneira de avaliar isso ainda é por meio da inspeção dinâmica feita pelo médico durante alguns testes específicos, como o step down test, que simula o movimento de descer um degrau. Quanto aos exames, destaca-se a ressonância magnética dinâmica”, explica Rene Abdalla.

Tratamentos
Em casos em que a mulher tenha geno valgo, mas esteja assintomática, ou seja, sem queixas de dor, e também preparada fisicamente, os treinos podem ser feitos de forma progressiva, pois não haverá risco de lesão. Contudo, se esta falta de alinhamento estiver causando algum desconforto, é preciso recorrer a tratamentos. De acordo com Ana Paula,`inicialmente é feita uma tentativa de correção postural em conjunto com um trabalho de fortalecimento muscular, fisioterapia, técnicas de propriocepção e treinamento funcional. “Há também a possibilidade de recorrer ao uso de órteses, como as palmilhas ortopédicas, que ajudam a corrigir o desequilíbrio postural e a amenizar a sobrecarga nas articulações do joelho, enquanto que a cirurgia fica para último caso”, complementa. Importante ressaltar que este tratamento deve ser feito sob a supervisão de ortopedistas, fisioterapeutas e profissionais de educação física. Além disso, é preciso tomar cuidado e evitar ao máximo a automedicação, pois a ingestão de remédios por conta própria só irá trazer um alívio imediato da dor, mas sem resolver o problema.

(Fontes Ana Paula Simões, ortopedista e traumatologista do esporte, especialista em perna, tornozelo e pé, Rene Abdalla, especialista em ortopedia e traumatologia e diretor médico do Instituto do Joelho do Hospital do Coração)

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