Com a confirmação da seleção brasileira de natação e de águas abertas que irá disputar o Mundial de esportes aquáticos de Budapeste, em julho, é hora de prestarmos uma homenagem àqueles nadadores que representaram as cores do país na história da competição.
Hoje, trazemos uma breve história do país nas oito edições de 1973 a 1998, período em que os Mundiais eram disputados a cada quatro anos – ao menos teoricamente. Na quinta-feira, traremos a história das oito edições restantes, de 2001 a 2015, período em que os Mundiais passaram a ser realizados a cada dois anos.
Relembre a seguir a medalha de ouro de Ricardo Prado em 1982, o bronze de Gustavo Borges em 1994 e outras performances que talvez não sejam muito lembradas, mas que têm um lugar de honra na galeria da história do esporte do país.
1973 – Belgrado
Equipe brasileira: Lucy Maurity Burle, Jaqueline Mross, Maria Elisa Guimarães, Rosemary Ribeiro, Valeria Fernandes, Cristina Bassani, S. Mendonça, Maria Isabel Guerra, Roberto Aranha, Jorge Namorado, Ruy Tadeu de Aquino, Paul Joaunneau, Rômulo Arantes, César Lourenço, Sergio Waissmann, Sergio Ribeiro, Eduardo Alijo, Carlos Azevedo, James Adams.
Medalhas: 0
Finais: 3
No Mundial inaugural, na cidade de Belgrado, antiga Iugoslávia, a natação brasileira vivia uma fase de transição. Nas Olimpíadas anteriores, em 1968 e 1972, as chances de medalha individual do país se apoiavam em José Sylvio Fiolo, fantástico peitista que chegou a ser recordista mundial dos 100m peito e que passou perto do pódio das duas edições olímpicas referidas. Em 1973, a equipe já não contava com ele – que tinha dúvidas se continuaria na natação, e acabaria disputando sua derradeira Olimpíada em 1976, sem no entanto jamais disputar uma edição de Mundial.
O Brasil foi à Iugoslávia com uma numerosa delegação de 8 mulheres e 11 homens. E, a exemplo do que ocorrera um ano antes, na Olimpíada de Munique, o melhor desempenho veio do quarteto masculino no 4x100m livre. Em Munique, havia saído a quarta colocação, melhor desempenho da história até o bronze de 2000. Em Belgrado, uma honrosa quinta posição foi obtida, colocação melhorada somente em 1994. Nos 100m livre, Ruy Tadeu de Aquino, que se notabilizou por, em 1972, superar o recorde sul-americano da prova de Manoel dos Santos que durava 11 anos e que havia sido recorde mundial em 1961, foi finalista na prova e terminou na oitava posição. E a outra final foi obtida por Rômulo Arantes nos 100m costas, superando seu recorde continental na eliminatória e terminando na sétima posição. Seu domínio na prova duraria por toda a década no país e renderia frutos internacionais, como veremos mais à frente.
As mulheres, apesar de não terem chegado a finais, tiveram bom desempenho. Maria Elisa Guimarães, a primeira nadadora do país a nadar os 100m livre abaixo do minuto, era versátil e chegou a ser recordista continental dos 100m aos 800m livre. Em Belgrado, superou o recorde dos 800m, e na passagem da prova estabeleceu recorde sul-americano dos 500m livre. Sim, na época a distância era reconhecida pela CONSANAT. Lucy Maurity Burle conseguiu o recorde dos 100m livre, e as duas nadadoras, ao lado de Rosemary Ribeiro e Jaqueline Mross, somaram forças e superaram a marca continental do 4x100m livre.
1975 – Cáli
Equipe brasileira: Lucy Maurity Burle, Rosemary Ribeiro, Maria Elisa Guimarães, Flavia Nadalutti, Christiane Paquelet, Cristina Bassani, Ruy Tadeu de Aquino, Paul Jouanneau, Djan Madruga, Rômulo Arantes, Sergio Ribeiro, Eduardo Alijo, Heliani Santos, Pablo Mangini, Paulo Zanetti
Medalhas: 0
Finais: 0
Quem se acostumou a ver o Brasil ter melhor desempenho em Jogos Pan-Americanos do que em Campeonatos Mundiais quando as competições são realizadas no mesmo ano pode não imaginar que essa é uma “tradição” que remonta há décadas. Mais precisamente desde 1975. Sim, na ocasião a seleção brasileira de natação deu prioridade ao Pan, realizado na Cidade do México, e teve um desempenho aquém de sua capacidade no Mundial de Cáli. Tanto que nenhuma final foi conquistada, marca repetida somente em 1991 – não por acaso, também ano de Pan e Mundial.
Para se ter uma ideia, Rômulo Arantes foi bronze no Pan nos 100m costas com 59s16, e em Cáli nadou mais de um segundo acima com 1min00s30. Nadadores como o já veterano José Sylvio Fiolo e a revelação Djan Madruga, que começava a despontar, conquistariam medalhas no Pan, mas não priorizaram o Mundial – Fiolo sequer nadou em Cáli. A melhor colocação do Brasil foi obtida por Ruy Tadeu de Aquino nos 100m livre, ao terminar na 9º posição. Nenhum recorde sul-americano foi superado por nadadores brasileiros. Aliás, os únicos recordes do continente foram obtidos pelo equatoriano Jorge Delgado, e conseguiu logo cinco: dois nos 200m livre, dois nos 100m borboleta e um nos 200m borboleta. Passou perto do pódio, mas não conquistou medalhas.
1978 – Berlim Ocidental
Equipe brasileira: Maria Elisa Guimarães, Flavia Nadalutti, Jorge Fernandes, Marcus Mattioli, Rômulo Arantes, Carlos Fontoura, Djan Madruga.
Medalhas: 1 (bronze de Rômulo Arantes nos 100m costas)
Finais: 2
O Brasil levou à Alemanha uma equipe pequena, de apenas sete nadadores. Tão pequena que, pela única vez na história, o país não teve revezamentos no evento. As grandes esperanças eram Djan Madruga, já consolidado como estrela brasileira após uma excelente Olimpíada de 1976, e Rômulo Arantes. Este conseguiu o feito inédito: com 58s01, terminou os 100m costas na quinta posição. Que logo virou quarto lugar, com a desclassificação do neo-zelandês Gary Hurring por irregularidade na virada. Dias depois, veio a notícia: o soviético Viktor Kuznetsov, terceiro colocado, fora desclassificado. Motivo: antidoping positivo. De maneira chorada, Rômulo, que também faria fama como ator global anos depois, conquistou a primeira medalha da história do país na competição.
Já Djan não teve tanta sorte. Por motivos de saúde, não nadou bem. Alcançou uma final, nos 1500m livre, prova em que ficou em quarto lugar na Olimpíada de dois anos antes. Mas, na final, não completou a prova.
Digno de nota foi o desempenho de Flavia Nadalutti nos 400m medley. Não chegou à final, mas seu 11º lugar é até hoje o melhor desempenho de uma brasileira na história da prova – e olha que anos depois teríamos Joanna Maranhão. Seu 5min02s85 durou como recorde sul-americano por quase 20 anos. Desde a primeira vez que superou o recorde continental da prova, em 1974, Flavia abaixou a marca em mais de 20 segundos. Ricardo Prado, à época um jovem de 13 anos, citou que esse desempenho foi uma de suas grandes inspirações na natação em sua juventude. Por falar em Ricardo…
1982 – Guaiaquil
Equipe brasileira: Paula Amorim, Cyro Delgado, Jorge Fernandes, Djan Madruga, Marcelo Jucá, Rojer Madruga, Luiz Carvalho, Ricardo Prado.
Finais: 8
Medalhas: 1 (ouro de Ricardo Prado nos 400m medley)
Impossível não começar falando dele. Ricardo Prado foi o responsável pelo auge da natação do país na década de 80. O ouro conquistado nos 400m medley, com recorde mundial de 4min19s78, é talvez o melhor desempenho brasileiro nas piscinas em um Mundial até hoje. Após a prova, ele louvou a torcida local, que torceu muito por uma vitória de um sul-americano. Disse que havia planejado com seu técnico Mark Schubert o tempo de 4min17s, mas que obviamente estava contente com a vitória e o recorde.
E não só isso: ele foi responsável por quatro das oito finais conquistadas pela seleção naquela competição, o maior número de finais obtido pelo Brasil até 2009. Foi quarto nos 200m borboleta, oitavo nos 200m medley e na mesma posição com o revezamento 4x100m medley.
Nos 400m medley, ao lado de Ricardo na final, também estava Rojer Madruga, irmão de Djan. Foi a primeira vez que dois brasileiros nadaram a mesma final em um Mundial de esportes aquáticos, feito igualado somente em 2009. Os outros finalistas foram Cyro Delgado, sétimo nos 100m livre, e o revezamento 4x100m livre masculino. Destaque também para Luiz Carvalho, que nos 100m peito superou o recorde brasileiro mais antigo, que vinha com José Sylvio Fiolo desde 1972.
Cyro foi o destaque solitário da equipe do 4x200m livre que conquistara o bronze na Olimpíada de 1980. Djan Madruga, doente de tifo, estava sem condições e nadou mal. Marcos Mattioli sequer nadou a competição. Grande expectativa havia sobre Jorge Fernandes, que naquele mesmo ano estabeleceu tempos incríveis nos 100m e 200m livre e que durariam como recordes brasileiros por quase uma década – o tempo nos 200m lhe daria o bronze olímpico em 1980. Em Guaiaquil, no entanto, aumentou suas marcas e não alcançou finais.
Ao final da competição, o Brasil só tinha mesmo olhos e mente para Ricardo, a maior estrela brasileira dos esportes olímpicos – e que àquele momento tinha status próximo a de um Zico e um Sócrates, algo inimaginável para a época. Isso a despeito das condições lamentáveis às quais os atletas brasileiros se submeteram naquela competição – mais detalhes nesse texto de Pedro Junqueira. Não é de hoje que nossos dirigentes mais atrapalham que ajudam…
1986 – Madri
Equipe brasileira: Adriana Pereira, Maruzza Silva, Debora Frochtengarten, Patricia Amorim, Cristiane Fanzeres, Paula Amorim, Mayra Kikuchi, Mônica Rezende, Georgiana Magalhães, Clauda Sprengel, Marcos Goldenstein, Cyro Delgado, Jorge Fernandes, Luiz Anchieta, Eduardo de Poli, Raul Camargo Viana, Marcus Mattioli, Cristiano Azevedo, Cicero Tortelli, Francisco Carvalho, Julio Rebollal, Ricardo Prado.
Medalhas: 0
Finais: 1
A equipe inchada de 22 nadadores ficou devendo bons resultados. O maior destaque foi, novamente, Ricardo Prado. Já distante de seus melhores dias e em fase final de carreira, a despeito de ter apenas 21 anos, alcançou a final nos 400m medley e terminou na sétima posição.
Em termos de marca pessoal, melhor para Patricia Amorim, a melhor nadadora do país da década, com seu recorde sul-americano nos 800m livre, o único obtido pelo Brasil na competição. Curiosidade: sua irmã Paula nadou provas de borboleta. Patricia e Paula forma a única dupla de irmãs que representou o país em Mundiais.
Havia grande expectativa para os 50m livre masculino, que seria disputado pela primeira vez em Mundiais. Motivo: em 1983, Marcos Goldenstein havia estabelecido o tempo de 22s90, em uma das performances mais lendárias da natação brasileira. O detalhe é que na piscina do Julio de Lamare não havia blocos do lado oposto da piscina, o que significa que o tempo foi obtido em uma saída sem bloco de partida. Por isso, havia até expectativa de medalha para Marcos, que não se concretizou, ao nadar para 23s59 – mas poderia ter brigado por pódio, já que o medalhista de bronze fez 22s85.
1991 – Perth
Equipe brasileira: Lucia Santos, Cristiane Santos, Gustavo Borges, Emanuel Nascimento, José Carlos Souza Junior, Eduardo Piccinini, Rogerio Romero, Renato Ramalho. (possivelmente incompleta)
Medalhas: 0
Finais: 0
Mais um Mundial sem grandes desempenhos brasileiros. Nenhuma final foi obtida. Ao menos surgia uma nova geração que colheria frutos nos anos seguintes. A começar por Gustavo Borges, que terminou na 12ª posição nos 50m e 100m livre, com recorde brasileiro nesta última. Meses depois, no Pan de Havana, ele se consagraria com cinco medalhas e se colocaria de vez no topo do ranking mundial dos 100m livre. Mas em Perth ele ainda não havia atingido aquele pico de performance. Rogerio Romero, que representaria o Brasil até 2004, foi 13º nos 200m costas. E foram esses os únicos desempenhos individuais que deram ao país colocações no top 20, que naquele ano estava mais concentrado nos Jogos Pan-Americanos – os revezamentos masculinos ficaram entre 10º e 12º lugares.
1994 – Roma
Equipe brasileira:
Natação: Gustavo Borges, Fernando Scherer, Teófilo Ferreira, Luiz Lima, André Teixeira, Eduardo Piccinini, Rogerio Romero.
Águas abertas: Luciana Abe, Alexandre Angelotti.
Finais: 3
Medalhas: 2 (bronze com Gustavo Borges nos 100m livre e bronze com Fernando Scherer, Teófilo Ferreira, André Teixeira e Gustavo Borges no 4x100m livre)
Se em 1991 Gustavo Borges era uma fruta verde, em 1994 já estava completamente amadurecido. Medalhista olímpico de prata em 1992, chegou para os 100m livre entre os favoritos. Em uma batalha contra o russo Alexander Popov e o americano Gary Hall Jr, terminou com a medalha de bronze com 49s52, trazendo o país de volta ao pódio após 12 anos. No entanto, o desempenho não o deixou satisfeito. Pretendia ao menos ter oferecido mais resistência aos dois primeiros colocados e ter melhorado sua marca (havia feito 49s42 um ano antes).
Por isso, ficou mais feliz ao término do 4x100m livre. A equipe, com Gustavo, Fernando Scherer, Teófilo Ferreira e André Teixeira, entrava credenciada, pois era a campeã e recordista mundial em piscina de 25 metros. Gustavo caiu para fechar a prova na quinta posição. Pouco a pouco, foi chegando perto de alemães e suecos. Ao final, uma comemorada medalha de bronze.
Gustavo quase conquistou medalha nos 50m livre ao terminar na quarta posição, desempenho que o surpreende até hoje, visto que essa jamais foi sua principal prova. Fernando Scherer, então campeão mundial em piscina curta dos 100m livre, alcançou finais B nos 50m e 100m livre. Digamos que o Xuxa de 1994 era o Gustavo de 1991: ainda não totalmente amadurecido, algo que ocorreria em 1996, ano em que conquistaria o bronze olímpico nos 50m livre.
Rogerio Romero nos 200m costas e um jovem Luiz Lima nos 1500m livre terminaram nas 12ªs posições. Foi o único Mundial de esportes aquáticos da história que a natação do Brasil em piscina foi representada somente por homens.
Para essa edição, o Brasil enviou dois nadadores para as provas de águas abertas, que haviam sido incluídas no programa do Mundial em 1991, apenas na distância de 25km. Curiosidade: Luciana Abe e Alexandre Angelotti treinavam na Guaru Munhoz, de São Paulo, mesma equipe da jovem Poliana Okimoto, na época 13 anos. Após as medalhas de 1994 nas piscinas, o Brasil só voltaria ao pódio em Mundiais de esportes aquáticos em 2009, e quem quebraria esse jejum seria justamente Poliana. Mas isso é assunto para outro dia.
1998 – Perth
Equipe brasileira:
Natação: Tatiana Lemos, Lucia Santos, Monique Ferreira, Raquel Takaya, Fabiola Molina, Fernando Scherer, Ricardo Dornelas, Gustavo Borges, Fernando Saez, Luiz Lima, Pedro Monteiro, Rogerio Romero, Alan Pessotti, Edvaldo Valério, André Cordeiro.
Águas abertas: Celina Endo, Alexandre Angelotti, Paulo Torres.
Medalhas: 0
Finais: 6
Retornando à Austrália, a competição que viu o surgimento de Ian Thorpe não rendeu as conquistas esperadas ao Brasil. Após três medalhas na Olimpíada de Atlanta, em 1996, o país não conseguiu subir ao pódio. Quem passou mais perto foi Gustavo Borges, que ficou em quinto nos 100m livre.
Mas o maior destaque brasileiro foi Luiz Lima. Três anos antes, havia superado o lendário recorde continental de Djan Madruga nos 1500m livre, que vinha desde a Olimpíada de 1976. Em Perth, Luiz estabeleceu uma nova marca, que seria superada somente em 2009, e terminou na sexta colocação, a melhor posição obtida por um brasileiro na história da prova. Também conseguiu nova marca sul-americana nos 400m livre, prova que terminou na 9ª posição.
Outras finais foram obtidas por Gustavo nos 200m livre (8º), Fernando Scherer nos 50m livre (8º), revezamento 4x100m livre (6º) e Rogerio Romero nos 100m costas (7º), um feito que surpreendeu até a ele mesmo. Primeiro porque sua especialidade sempre foi os 200m costas, e segundo porque quase se aposentou ao final de 1996, com direito a despedida e tudo, desistiu da ideia e alcançou sua primeira final em Mundial aos quase 30 anos. No feminino, a boa notícia veio com Fabiola Molina, alcançando a final B dos 100m costas (11ª colocada).
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